Edigles Guedes
Eis o vento, minha filha: você não
Pode colhê-lo com as mãos em concha
De oceano Atlântico das luzes, senão
O sargaço, enciumado, esse cangoncha,
Faz beicinho e cara feia para você,
Minha donzelinha de papai cheirar!…
Eis o vento, ele não fia, arrefece-se
Co’o clímax tanajura; vive a joeirar
As folhas saídas de baixo de árvores –
O vento, traquino, gosta apoquentar.
Eis que o vento mallarmaico, de odores
Selvagens, consigo carrega sua dor:
A dor de ver o que vejo e não tatear,
A dor de amar pelo olhar casto do Amor!…
31-8-2010.
Inspire-se. Surpreenda-se. Viva com leveza. Aproveite os sonetos. O romance. A desilusão. O amor. Leia e curta.
Céus sem Alças
Edigles Guedes
Nenhuma arte na porta da sala de
Estar, nenhum caminhar de cágado
Com os passos rentes ao ser de alarde
Em mim, nenhum barulho endomingado,
Nenhum cheiro no meu rosto de abrolhos
E vácuo dos automóveis cortantes
Dentes, nenhum fungar de esbeltos olhos,
Nenhum dourado beijo de pé arfante…
Mas, vestida, qual Dama da Camélia,
Você desalinha da gravata o nó.
Você diz-me doces sem contumélia;
Você desata-me o cinto da calça;
Você deixa-me estarrecido, áfono;
Você transforma a terra em céus sem alças!…
31-8-2010.
Nenhuma arte na porta da sala de
Estar, nenhum caminhar de cágado
Com os passos rentes ao ser de alarde
Em mim, nenhum barulho endomingado,
Nenhum cheiro no meu rosto de abrolhos
E vácuo dos automóveis cortantes
Dentes, nenhum fungar de esbeltos olhos,
Nenhum dourado beijo de pé arfante…
Mas, vestida, qual Dama da Camélia,
Você desalinha da gravata o nó.
Você diz-me doces sem contumélia;
Você desata-me o cinto da calça;
Você deixa-me estarrecido, áfono;
Você transforma a terra em céus sem alças!…
31-8-2010.
Peregrinos Semens
Edigles Guedes
Peregrino eu sou desta terra estranha
(Algibeira para mim), por isso o aço
Das palavras a brotarem entranhas
Em mim – cavalo búfalo sem laço,
Sem rédea ou bridão para segurá-lo!
Peregrino, estou a perguntar: começa
Aonde esse cego nó de bucéfalo
Pedestre, sem trânsito que me meça
Da avenida da minh’alma aos mazorros
Pés de lata e angústia do meu corpo em rua?
Levanta-te! pare de andar a zorro
Por aí: a vida não estanca! Toda cruel, crua,
Ela (a vida) recria-se em ébrio forró
De peregrinos semens e vulvas nuas!
31-8-2010.
Peregrino eu sou desta terra estranha
(Algibeira para mim), por isso o aço
Das palavras a brotarem entranhas
Em mim – cavalo búfalo sem laço,
Sem rédea ou bridão para segurá-lo!
Peregrino, estou a perguntar: começa
Aonde esse cego nó de bucéfalo
Pedestre, sem trânsito que me meça
Da avenida da minh’alma aos mazorros
Pés de lata e angústia do meu corpo em rua?
Levanta-te! pare de andar a zorro
Por aí: a vida não estanca! Toda cruel, crua,
Ela (a vida) recria-se em ébrio forró
De peregrinos semens e vulvas nuas!
31-8-2010.
Vômito de Verme?
Edigles Guedes
Conspurcado mar de ossos e minérios:
Onde me navegaste? onde essa preamar
Quer me levar? Cantam conchas, saltérios,
Violinos recalcitrantes, verbo amar…
Eu – pútrida carne de vermes sáfios –
Sinto-me e sou tão xucro, e tolo, e néscio,
Quanto uma criança de terra sáfara,
Quanto uma tormenta que em si alcântara…
Sem naufrágios d’alma, Robinson Crusoé
À deriva da Arca do pujante Noé,
Eu, passo a passo, desconstruo-me, ingrato!…
Esfarelo-me no primeiro prato
De sopa com letrinhas voos, flutuantes…
A vida é um vômito de verme instante?
25-8-2010.
Conspurcado mar de ossos e minérios:
Onde me navegaste? onde essa preamar
Quer me levar? Cantam conchas, saltérios,
Violinos recalcitrantes, verbo amar…
Eu – pútrida carne de vermes sáfios –
Sinto-me e sou tão xucro, e tolo, e néscio,
Quanto uma criança de terra sáfara,
Quanto uma tormenta que em si alcântara…
Sem naufrágios d’alma, Robinson Crusoé
À deriva da Arca do pujante Noé,
Eu, passo a passo, desconstruo-me, ingrato!…
Esfarelo-me no primeiro prato
De sopa com letrinhas voos, flutuantes…
A vida é um vômito de verme instante?
25-8-2010.
Alpendre Ábaco
Edigles Guedes
Deságuo-me em pleno voo de imaginação; tenor de
Banheiro – eu não sei imitar os pássaros e seus cantos
Indígenas. Aprendi na carpintaria da vida
A ser originalmente eu mesmo e nada além de mim!
Vivo sem as pretensões de passarinho canoro,
Sobrevivo nas asas do plenilúnio axífugo.
Centrífugo em meu umbigo, eu não sei das viagens de Marco
Pólo, de Júlio Verne, ou de Gulliver. Estou longe
Dos aventureiros de finais de semana!… Aboiado
Em minha espreguiçadeira dou o braço a torcer: lida
Distante de mim, preciso dialogar com aleli…
Homem de rudes palavras, vocabulário ápodo
Da noite sem fuga de Bach!… Desmemoriado fungo
Eu sou, debaixo do alpendre da cor de aberto ábaco?
24-8-2010.
Deságuo-me em pleno voo de imaginação; tenor de
Banheiro – eu não sei imitar os pássaros e seus cantos
Indígenas. Aprendi na carpintaria da vida
A ser originalmente eu mesmo e nada além de mim!
Vivo sem as pretensões de passarinho canoro,
Sobrevivo nas asas do plenilúnio axífugo.
Centrífugo em meu umbigo, eu não sei das viagens de Marco
Pólo, de Júlio Verne, ou de Gulliver. Estou longe
Dos aventureiros de finais de semana!… Aboiado
Em minha espreguiçadeira dou o braço a torcer: lida
Distante de mim, preciso dialogar com aleli…
Homem de rudes palavras, vocabulário ápodo
Da noite sem fuga de Bach!… Desmemoriado fungo
Eu sou, debaixo do alpendre da cor de aberto ábaco?
24-8-2010.
Mãos Enxaguadas
Edigles Guedes
Refém do medo da madrugada matreira, seco
Dos meus instintos mais íntimos, eu vou navegando
O Infinito entre um ponto e uma vírgula, co’a palavra
De entremeio. Sigo o destino de travessão pálido:
Eu procuro o tímido pássaro atroz, aquele outro
Personagem, para que juntos possamos (quem sabe?)
Tocar a valsa vienense de Drummond, em um só eco!…
Eu sinto em minha calvície de anos, vagabundando
Em mim a floresta do desespero humano, lavra
De uma existência digna de anonimato esquálido.
Nasci para ser tão somente pó da terra!… Já ouço
O bramir esquecediço da baioneta e do sabre.
São as palavras que me chamam agoniadas, vexadas,
A pularem no papel, por minhas mãos enxaguadas!…
24-8-2010.
Refém do medo da madrugada matreira, seco
Dos meus instintos mais íntimos, eu vou navegando
O Infinito entre um ponto e uma vírgula, co’a palavra
De entremeio. Sigo o destino de travessão pálido:
Eu procuro o tímido pássaro atroz, aquele outro
Personagem, para que juntos possamos (quem sabe?)
Tocar a valsa vienense de Drummond, em um só eco!…
Eu sinto em minha calvície de anos, vagabundando
Em mim a floresta do desespero humano, lavra
De uma existência digna de anonimato esquálido.
Nasci para ser tão somente pó da terra!… Já ouço
O bramir esquecediço da baioneta e do sabre.
São as palavras que me chamam agoniadas, vexadas,
A pularem no papel, por minhas mãos enxaguadas!…
24-8-2010.
Bom Covil
Edigles Guedes
Proscrito em indumentária
Silvestre, eu (pobre criatura
De carbono e urticária)
Padeço na gramatura
De minha língua baderna!
São tantos estrangeirismos
Andando por aí!… Que eterna
Alma descansa algarismos
Pútridos de vícios sóbrios!
Trago em meu peito varonil
Esse esculacho: mais vale
Um passarinho com seus brios
Voando do que pássaro alarde
No da raposa bom covil…
24-8-2010.
Proscrito em indumentária
Silvestre, eu (pobre criatura
De carbono e urticária)
Padeço na gramatura
De minha língua baderna!
São tantos estrangeirismos
Andando por aí!… Que eterna
Alma descansa algarismos
Pútridos de vícios sóbrios!
Trago em meu peito varonil
Esse esculacho: mais vale
Um passarinho com seus brios
Voando do que pássaro alarde
No da raposa bom covil…
24-8-2010.
Lira Desafinada
Edigles Guedes
Desalmada mulher dos pesadelos
Meus: o que foi que te aconteceu? Brado
De onça selvagem na caatinga do Meio.
Qual caçador de minério em barroca
Terra, assim é o coração empedernido.
Astuto, meu coração que arrefece
Estes sentimentos nobres!… Sim, bruto
Coração! onde você escondeu o cálido
Amor por donzela em seu cálice?… Ora,
Breve amigo, minutos passilargos de
Suspiros! onde está a bela donzela?…
Eu sei que ela corre perigo. Posto
Que o perigo sou eu!… Tranca-ruas de versos
Afoutos, de lira desafinada!...
22-8-2010.
Desalmada mulher dos pesadelos
Meus: o que foi que te aconteceu? Brado
De onça selvagem na caatinga do Meio.
Qual caçador de minério em barroca
Terra, assim é o coração empedernido.
Astuto, meu coração que arrefece
Estes sentimentos nobres!… Sim, bruto
Coração! onde você escondeu o cálido
Amor por donzela em seu cálice?… Ora,
Breve amigo, minutos passilargos de
Suspiros! onde está a bela donzela?…
Eu sei que ela corre perigo. Posto
Que o perigo sou eu!… Tranca-ruas de versos
Afoutos, de lira desafinada!...
22-8-2010.
Espáduas Turvas
Edigles Guedes
Domingo prazenteiro: que desastre
De dia foi o meu, sem uma gota de arte
Nas veias banais da América latrina!…
Eu sofro do sopro incógnito de Amor!
Amor que aflora na curva da escada,
Amor que enamora os bons namorados
De plantão na praça. Bastos coqueiros
Balouçam na cadeira de balanço
Em minha casa. Navios verdes, alto
Mar de cachos ensolarados, chuvas
De agosto que respingam bem quentinhas
Em mim. Oh! brando nó que me desata!
Oh! estupefatas mãos e espáduas turvas!…
Que desassossegam olhos trigueiros!…
22-8-2010.
Domingo prazenteiro: que desastre
De dia foi o meu, sem uma gota de arte
Nas veias banais da América latrina!…
Eu sofro do sopro incógnito de Amor!
Amor que aflora na curva da escada,
Amor que enamora os bons namorados
De plantão na praça. Bastos coqueiros
Balouçam na cadeira de balanço
Em minha casa. Navios verdes, alto
Mar de cachos ensolarados, chuvas
De agosto que respingam bem quentinhas
Em mim. Oh! brando nó que me desata!
Oh! estupefatas mãos e espáduas turvas!…
Que desassossegam olhos trigueiros!…
22-8-2010.
Magnéticos Olhos
Edigles Guedes
Magnéticos olhos fartos, enfarte
Da minh’alma, tal como esse desgaste
Na lâmina da faca cega e torta
Em seu amolar-se diário em pedra rota.
Magnéticos olhos gástricos, lince
Que se lança em caçada brutal, chance
Nenhuma para a presa, que indefensa,
Foge dali, pula daqui; propensa
A um mugido e ora sus! – a morte certa.
Magnéticos olhos cáusticos, como
Uma xilogravura descoberta
De homem rústico, rupestre, terrestre
Ser que se alegra co’a miséria – assomo
De tal solidariedade pedestre!…
22-8-2010.
Magnéticos olhos fartos, enfarte
Da minh’alma, tal como esse desgaste
Na lâmina da faca cega e torta
Em seu amolar-se diário em pedra rota.
Magnéticos olhos gástricos, lince
Que se lança em caçada brutal, chance
Nenhuma para a presa, que indefensa,
Foge dali, pula daqui; propensa
A um mugido e ora sus! – a morte certa.
Magnéticos olhos cáusticos, como
Uma xilogravura descoberta
De homem rústico, rupestre, terrestre
Ser que se alegra co’a miséria – assomo
De tal solidariedade pedestre!…
22-8-2010.
Sargaço ao léu
Edigles Guedes
Noite sestra! … Submarino atônito
Na cavalgada da maré cética.
Eu escuto, de memória, as escumas sãs
Do oceano Atlântico com indômito
Amor, gemendo por rochas náufragas,
Sem cor. As algas como epilépticas
Pernas, desafortunadas cortesãs,
Fluem o fluxo e o refluxo das amargas
Águas. Salobro sal de ácido cuspe
Das horas magras, corais marítimos
Sem tons musicais, silêncio apócope
Do sargaço ao léu – tão estreito em sua casa
De lama e esgoto… A praia (poluída) escassa
De banhistas e lamentos bálsamos!…
19-8-2010.
Noite sestra! … Submarino atônito
Na cavalgada da maré cética.
Eu escuto, de memória, as escumas sãs
Do oceano Atlântico com indômito
Amor, gemendo por rochas náufragas,
Sem cor. As algas como epilépticas
Pernas, desafortunadas cortesãs,
Fluem o fluxo e o refluxo das amargas
Águas. Salobro sal de ácido cuspe
Das horas magras, corais marítimos
Sem tons musicais, silêncio apócope
Do sargaço ao léu – tão estreito em sua casa
De lama e esgoto… A praia (poluída) escassa
De banhistas e lamentos bálsamos!…
19-8-2010.
Tosco Marulhar d´Água
Edigles Guedes
Uma equação sem solução aparente –
Assim é o Amor: cego que não vê um palmo
À sua frente. Cego guia de bengala –
Ausente. O Amor é lugar de tementes
Águas conturbadas por procelosas
Ondas sem sal… Mastigo eu, lasso, calmo,
A reminiscência em traje de gala
Da minh’alma. A vida é pernas dengosas?
Turista de minhas pupilas sem dor
De cotovelo para consolá-las,
Eu sigo avante por veredas sem cor!…
Há dias que a tristeza sela tamanduá
Em mim – bicho de dar nó nas estrelas
Gasosas? Ah! tosco marulhar d’água!…
18-8-2010.
Uma equação sem solução aparente –
Assim é o Amor: cego que não vê um palmo
À sua frente. Cego guia de bengala –
Ausente. O Amor é lugar de tementes
Águas conturbadas por procelosas
Ondas sem sal… Mastigo eu, lasso, calmo,
A reminiscência em traje de gala
Da minh’alma. A vida é pernas dengosas?
Turista de minhas pupilas sem dor
De cotovelo para consolá-las,
Eu sigo avante por veredas sem cor!…
Há dias que a tristeza sela tamanduá
Em mim – bicho de dar nó nas estrelas
Gasosas? Ah! tosco marulhar d’água!…
18-8-2010.
Riacho Anil
Edigles Guedes
Tabela de preços sem valor próprio,
Ilustrações sem valia alguma, livro
Da última badalada da meia-noite,
Pensamentos dispersos na latrina!…
A vida no badalo com sorriso
De guizo: gato seio em telha vã, sem pio!…
Repousa na mesa esse marca-livro
Tolo, tão tolo quanto eu!… Artrocondrite
De sentimentos vagos a trafegar!…
Palavras balbuciadas em menina
Boca?… Coração estúpido a estortegar!
Por que a vida há de ser uma dor senil?
Olhos, os teus cabelos, que são bem lisos,
Morena. E eu me acho tal como riacho anil!…
17-8-2010.
Tabela de preços sem valor próprio,
Ilustrações sem valia alguma, livro
Da última badalada da meia-noite,
Pensamentos dispersos na latrina!…
A vida no badalo com sorriso
De guizo: gato seio em telha vã, sem pio!…
Repousa na mesa esse marca-livro
Tolo, tão tolo quanto eu!… Artrocondrite
De sentimentos vagos a trafegar!…
Palavras balbuciadas em menina
Boca?… Coração estúpido a estortegar!
Por que a vida há de ser uma dor senil?
Olhos, os teus cabelos, que são bem lisos,
Morena. E eu me acho tal como riacho anil!…
17-8-2010.
Velha Ingrácia
Edigles Guedes
Rasga o verbo conosco. Corríamos
Pela cozinha de casa, brincando
De pique-cola. A gargalhar, sorríamos!…
Essa velha Ingrácia vociferando!
Ácido ascórbico em cápsulas alvas
Cheirando a roupa branca da saudosa
Negra Ingrácia. Ó quanta saudade fulva
Da negra Ingrácia!… Doméstica aftosa
Nos calos de meninos! E os seus doces?
Ela era doceira de mancheia!… Ímpares
Salgadinhos pulam na frigideira!…
Hoje, meus olhos passeiam bem veloces
Em casa, buscam os olhos ácares
Da velha Ingrácia. Por onde ela andará?…
15-8-2010.
Rasga o verbo conosco. Corríamos
Pela cozinha de casa, brincando
De pique-cola. A gargalhar, sorríamos!…
Essa velha Ingrácia vociferando!
Ácido ascórbico em cápsulas alvas
Cheirando a roupa branca da saudosa
Negra Ingrácia. Ó quanta saudade fulva
Da negra Ingrácia!… Doméstica aftosa
Nos calos de meninos! E os seus doces?
Ela era doceira de mancheia!… Ímpares
Salgadinhos pulam na frigideira!…
Hoje, meus olhos passeiam bem veloces
Em casa, buscam os olhos ácares
Da velha Ingrácia. Por onde ela andará?…
15-8-2010.
Maré sem Chassi
Edigles Guedes
Sussurro duma brisa claudicante,
Murmúrio sem água potável, guapo
Peixe navegando a sirte do existir.
Doce páramo, lago aconchegante!…
Tarde sem verão de permeio, feio sapo
De cócoras em sua terra de fremir
O frio – que vem cavalgando esse monte!…
O mesmíssimo frio de pedra… Anteontem,
Uma estrela cadente veio “post mortem”
Passear na Terra, e escafedeu-se no mar.
A vida de astro é tão breve celeste
Quanto à morte da mariposa de Assis!…
Duro é recalcitrar co’agulhas, remar
Contra o ferro-velho – maré sem chassi!…
15-8-2010
Sussurro duma brisa claudicante,
Murmúrio sem água potável, guapo
Peixe navegando a sirte do existir.
Doce páramo, lago aconchegante!…
Tarde sem verão de permeio, feio sapo
De cócoras em sua terra de fremir
O frio – que vem cavalgando esse monte!…
O mesmíssimo frio de pedra… Anteontem,
Uma estrela cadente veio “post mortem”
Passear na Terra, e escafedeu-se no mar.
A vida de astro é tão breve celeste
Quanto à morte da mariposa de Assis!…
Duro é recalcitrar co’agulhas, remar
Contra o ferro-velho – maré sem chassi!…
15-8-2010
Psiu sem Noite
Edigles Guedes
Um ventilador velho e vuco-vuco
Resfria o dia deitado na cama alada!
Um cansaço e bom relógio sem cuco
Discorrem sobre a álgebra da salada
De frutas na cozinha fantástica
De minha casa! Há um mundo prodigioso
Dentro da minha cachola rasa e esférica!
Um mundo de homem mudo e langoroso!
Um liquidificador persistente
Tritura as matérias (banana e maçã)
Em seu forno a jato e recalcitrante!
Um tetéu, na vigília do pernoite,
Canta seu cântico de ave ribaçã?
Tudo é abracadabrante psiu sem noite?
15-8-2010.
Um ventilador velho e vuco-vuco
Resfria o dia deitado na cama alada!
Um cansaço e bom relógio sem cuco
Discorrem sobre a álgebra da salada
De frutas na cozinha fantástica
De minha casa! Há um mundo prodigioso
Dentro da minha cachola rasa e esférica!
Um mundo de homem mudo e langoroso!
Um liquidificador persistente
Tritura as matérias (banana e maçã)
Em seu forno a jato e recalcitrante!
Um tetéu, na vigília do pernoite,
Canta seu cântico de ave ribaçã?
Tudo é abracadabrante psiu sem noite?
15-8-2010.
Céu Aliseu
Edigles Guedes
Madrugada incólume, em que o grilo canta
Seu salmo monótono!… Há um risco inerte
No papel da carta, que eu não escrevinhei.
Tudo é silêncio cego de escuridão…
Um mosquito sonâmbulo me inquieta.
Pobre bicho! que bastante solerte
Soletra a cartilha verde, que eu sonhei
Nos tempos de menino… Grã solidão
Com os livros de Monteiro Lobato
Em minhas mãos de calos e assíntotas!…
Sento-me ao lado do lustre astômato
Da sala de estar. Eu já não sou mais eu,
Sou uma breve figura (cara torta)
Em porta-retratos… Manhã, céu aliseu!…
8-8-2010.
Madrugada incólume, em que o grilo canta
Seu salmo monótono!… Há um risco inerte
No papel da carta, que eu não escrevinhei.
Tudo é silêncio cego de escuridão…
Um mosquito sonâmbulo me inquieta.
Pobre bicho! que bastante solerte
Soletra a cartilha verde, que eu sonhei
Nos tempos de menino… Grã solidão
Com os livros de Monteiro Lobato
Em minhas mãos de calos e assíntotas!…
Sento-me ao lado do lustre astômato
Da sala de estar. Eu já não sou mais eu,
Sou uma breve figura (cara torta)
Em porta-retratos… Manhã, céu aliseu!…
8-8-2010.
Pulcro Talhe
Edigles Guedes
Usuário das horas arqueográficas…
Prossigo por ingentes pensamentos.
Há um túnel na estrada reprográfica
Dos sandeus – longobardos sentimentos.
Pulcro talhe de mulher desabrocha
Na linha do horizonte geodésico.
Quem vem lá? Já vem bela flor em concha
De vestido farfalhante – belisco
Nos olhos ariscos da tarde insossa!…
Pulcro talhe de mulher desengrossa
O hábito das estrelas tão cadentes
Quanto de fervores amanhecentes!…
Ó talhe de mulher sem escrúpulos!
Que me encanece, qual gato aéreo pulo…
7-8-2010.
Usuário das horas arqueográficas…
Prossigo por ingentes pensamentos.
Há um túnel na estrada reprográfica
Dos sandeus – longobardos sentimentos.
Pulcro talhe de mulher desabrocha
Na linha do horizonte geodésico.
Quem vem lá? Já vem bela flor em concha
De vestido farfalhante – belisco
Nos olhos ariscos da tarde insossa!…
Pulcro talhe de mulher desengrossa
O hábito das estrelas tão cadentes
Quanto de fervores amanhecentes!…
Ó talhe de mulher sem escrúpulos!
Que me encanece, qual gato aéreo pulo…
7-8-2010.
Dia dos Pais
Edigles Guedes
Meu pai, pego da pena para exaltar,
Hoje, a tua paciência para comigo!…
Eu (um obtuso imperfeito) que a peraltar
Nos teus braços, ombros e torso amigos
Vivi desde menino bem franzino,
Venho nesses versos, tal qual mendigo,
Pedir a tua bênção, meu papai alvino!…
Pois, eu sou pequenino do tamanho
Do alevino. E agradeço a mão que sigo
Por me guiar guarnecido, sem acanho,
De carinho enobrecido. Neste dia,
(Enaltecido por muitos) declaro,
Em salto de bom tom, nossa melodia,
Como pássaro na chuva serôdia.
7-8-2010.
Meu pai, pego da pena para exaltar,
Hoje, a tua paciência para comigo!…
Eu (um obtuso imperfeito) que a peraltar
Nos teus braços, ombros e torso amigos
Vivi desde menino bem franzino,
Venho nesses versos, tal qual mendigo,
Pedir a tua bênção, meu papai alvino!…
Pois, eu sou pequenino do tamanho
Do alevino. E agradeço a mão que sigo
Por me guiar guarnecido, sem acanho,
De carinho enobrecido. Neste dia,
(Enaltecido por muitos) declaro,
Em salto de bom tom, nossa melodia,
Como pássaro na chuva serôdia.
7-8-2010.
Peixe sem Dentes
Edigles Guedes
Por que a pedra no meio do meu caminho
Não é igualzinha a pedra do vizinho?
Preciso aprender a fazer das pedras
Uma fortaleza ou forte, que medra
No imo. As pedras que jogaram em mim,
Com o tempo faleceram em jasmim,
Tornaram-se um canto – entrave de cisne,
Tornaram-se meu titubeante tisne.
Fugiu em mim um fôlego de gota
De chuva. Deságua cachoeira rota
Que pole a pedra triste, mocoronga.
Hoje, chora em meu peito transparente
Essa dor rente de peixe sem dentes,
De dor sem ferida, sem trapizonga.
5-8-2010.
Por que a pedra no meio do meu caminho
Não é igualzinha a pedra do vizinho?
Preciso aprender a fazer das pedras
Uma fortaleza ou forte, que medra
No imo. As pedras que jogaram em mim,
Com o tempo faleceram em jasmim,
Tornaram-se um canto – entrave de cisne,
Tornaram-se meu titubeante tisne.
Fugiu em mim um fôlego de gota
De chuva. Deságua cachoeira rota
Que pole a pedra triste, mocoronga.
Hoje, chora em meu peito transparente
Essa dor rente de peixe sem dentes,
De dor sem ferida, sem trapizonga.
5-8-2010.
Soneto à Bacia Sanitária
Rechonchudinha: chupeta de criança
Plantada ao contrário na árvore – cano
De descarga. Quem sabe?… Uma esperança
Verde de milagres bem espartanos,
Flutuando em sua nau por guerra escondida
Entre estômago, intestino e sua boca…
A gula aguda que agulha a ferida
Da úlcera gástrica em gluglu de foca,
No espetáculo do circo estomacal.
Quando a vejo, ó boa bacia sanitária,
Os meus olhos enchem-se com pá de cal!…
Pois, lembro-me da azia e má digestão,
Lembro-me as hemorroidas solitárias,
E o jornal lido no trono sem razão.
03/08/2010.
Plantada ao contrário na árvore – cano
De descarga. Quem sabe?… Uma esperança
Verde de milagres bem espartanos,
Flutuando em sua nau por guerra escondida
Entre estômago, intestino e sua boca…
A gula aguda que agulha a ferida
Da úlcera gástrica em gluglu de foca,
No espetáculo do circo estomacal.
Quando a vejo, ó boa bacia sanitária,
Os meus olhos enchem-se com pá de cal!…
Pois, lembro-me da azia e má digestão,
Lembro-me as hemorroidas solitárias,
E o jornal lido no trono sem razão.
03/08/2010.
Navega em mim
Edigles Guedes
Navega em mim a solidão das horas
Sem pudor da tarde alva. Tarde calva:
De substantivos ermos, adjetivos
Estropiados, advérbios deletérios…
Navega em mim um mar colosso e afora,
Sem escrúpulos das horas fuscalvas,
Porquanto o tempo é degenerativo
E imperdoável em seu giro ─ vozerio
Das engrenagens de relógio infindo.
Navega em mim esse grande estrupício:
O Amor, nem sempre todo bem-avindo,
Nem sempre em mim bastante compreendido…
Mas que persiste, tal como no hospício
Um lunático de siso encardido!…
02/08/2010.
Navega em mim a solidão das horas
Sem pudor da tarde alva. Tarde calva:
De substantivos ermos, adjetivos
Estropiados, advérbios deletérios…
Navega em mim um mar colosso e afora,
Sem escrúpulos das horas fuscalvas,
Porquanto o tempo é degenerativo
E imperdoável em seu giro ─ vozerio
Das engrenagens de relógio infindo.
Navega em mim esse grande estrupício:
O Amor, nem sempre todo bem-avindo,
Nem sempre em mim bastante compreendido…
Mas que persiste, tal como no hospício
Um lunático de siso encardido!…
02/08/2010.
Uma Colher de Sede
Edigles Guedes
Quanto mais me amavas, mais eu te perdia.
Porque no jogo do amor é assim: nem dia,
Nem hora marcada existem para o Amor
Deixar sua marca registrada ─ clamor
Dos calos na mão do coração ingrato!
O Amor é um chato: velozes sapatos
E umas sandálias Havaianas no dorso.
Há sempre na boca o gelo remorso
Pelo beijo que não nos concedemos,
Há os desencontros irreconciliáveis
De mãos sem afagos. Nós esquecemos
O quão difícil é viver sem paredes
E portas trancadas. Quem sabe?… Talvez
O Amor nos dê uma colher de sede!
01/08/2010.
Quanto mais me amavas, mais eu te perdia.
Porque no jogo do amor é assim: nem dia,
Nem hora marcada existem para o Amor
Deixar sua marca registrada ─ clamor
Dos calos na mão do coração ingrato!
O Amor é um chato: velozes sapatos
E umas sandálias Havaianas no dorso.
Há sempre na boca o gelo remorso
Pelo beijo que não nos concedemos,
Há os desencontros irreconciliáveis
De mãos sem afagos. Nós esquecemos
O quão difícil é viver sem paredes
E portas trancadas. Quem sabe?… Talvez
O Amor nos dê uma colher de sede!
01/08/2010.
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