Perdida é a Rosa



Sorri, ao passar o Tempo — macabro
Menino de asas, sequer um rosto…
Trocista, terrível, com peito glabro,
Propaga nas vidas um til desgosto…

Debocha das minhas galochas tolas,
Tal como debocha do passo à toa…
Perdido porque é nas róseas auréolas
Do parque da minha infância… Destoa

Genuíno do barco no mar (que sou!)…
Cruzando os sete já mares dantes
Singrados, embora secos… Estou

De sempre partida, sem um começo…
— Me dera que tudo fosse qual antes!…
Por isso, que, tempo ao tempo, eu te peço…

Autor: Edigles Guedes.


Estruge o Vento


Estruge, lá fora, o Vento…
Enquanto notícias vagam,
Pela tevê, de violento
Tufão… Estrelas cavalgam

O Céu de anil, bem pintado…
O piano toca a última
Valsa vienense… Calado,
Vejo a famosa sétima

Maravilha, não me abismo…
O Mundo que vage, chora,
Avalanche, cataclismo…

Um Passarinho, lá fora,
Vence o soez Vento, heroísmo
Tamanho: morre a desoras…

Autor: Edigles Guedes.



Sol de Verão



Mádido Sol de verão que
Sonha e insufla a magra vela
Do velejar; não sei o quê!…
Será que dou a boa trela?…

Máximo Sol de verão que
Me desbarata aquelas tétricas
Horas de folga; para quê?…
Se são tais horas muito céticas?…

Cálido Sol de verão que
Já me apalerma os nervos brandos…
Grifos, charadas e porquês?…

Cândido Sol de verão que
Desfralda aves mui aos bandos;
E, deslumbrado fico: o quê!…

Autor: Edigles Guedes.


Vão os Anos



Nenhum grugrulho de Poema
Desata em minha mão tão lesta…
Nenhuma Cólera ou Dilema
Portou na brava e leve aresta

Do Dia torpe ou Noite finda…
A Lua — arauto a navegar…
Navio sou e navego, inda
Que os Mares tentem me afogar…

Não sei que cais ou porto vou
Parar; porém, antes que a bordo
Comigo venha albatroz, voo

Para tão longínquos Oceanos,
Da minh’alma dentro, a cisbordo…
Passam grãos os Dias, vão os Anos…

Autor: Edigles Guedes.



Cheiro de Goiabada e Mequetrefe Marisco

Edigles Guedes

Cheiro de goiabada sobe pelo ar,
Mas é só lembrança do antigo lar,
Em que maravilhosa doceira —
Minha mãe — fazia suas guloseimas…

A atmosfera transpirava seu suor
De fogo e fogão, calor e pudor…
Ela mexia o tacho co’uma colher
De pau; colhia nos braços de mulher

Uma porção da calda; provava-a,
Que sorria para mim seu sorriso
Transcendental. O quitute aprovava!…

Hoje, eu sou tão distante, magoado?…
Hoje, eu sou um mequetrefe marisco…
Longe e longe mar, coral salgado…

4-8-2012.

Névoa Nebulosa, Magra Mágoa

Edigles Guedes

Eu marco no calendário os dias de outono,
Não procuro os quânticos números nulos,
Os quais risquei com lápis e muito sono…
Procuro saudosamente pulcros pulos

De menino introspectivo, agarrado com
Seu coelhinho branco, na cadeira branda
De balanço… Que me embalava meu sonho
De caubói: botas e esporas que tresandam…

Laços nas mãos que nada enlaçam… A nódoa
Da calça desbotada desse xerife
De plástico, que brinco de forte Apache…

Tudo é névoa nebulosa, magra mágoa
Da infância que naufragou na urbe Recife:
Quem me procura que, vistoso, não me ache!…

3-8-2012.

Se sou Peixe, não sei em que Aquário Vivo

Edigles Guedes

Peixe sou de um Aquário vagabundo?…
Ou sou peixe vira-mundo sem rumo?…
Lastimavelmente, eu esqueci o prumo
Do meu pensamento assaz fremebundo!…

Quando o Peixe dorme no Aquário, as luzes
De neônio se calam: total silêncio…
As águas calmas fazem sinal de psiu…
A Noite adentra… Estrelas são ferozes

Olhinhos luminosos de um predador
Longínquo?… Sincero, não sei por qual via
Seguir… Repentinamente, o mundo e a dor

Ficaram tão minúsculos!… Cativo
Sou dos grilhões de Amor tredo?… Todavia,
Se sou Peixe, não sei em que Aquário vivo!…

31-7-2012.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...