Mostrando postagens com marcador Boca. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Boca. Mostrar todas as postagens

Rouca



Nunca chegarei ao cabo
Dessa grandiosa façanha…
Que delícia favorece
O meu arcabouço? Tece

Cá, dentro de mim, o fio
De Ariadne… Algum Teseu,
Ingrato, olvida a promessa:
Salvaguardar-se da pressa,

Que tudo consome em boca
Do caminho escasso e seu.
Não sustento desafio,

Parto pra cima, me acabo
No cabo da faca, assanha
Meu juízo, lavando rouca…

Autor: Edigles Guedes.


Mastigava



Ah! caso eu pudesse… mastigava-te todinha,
Como se mastiga um fruto suprimido pelo
Prazer inconfesso de mastigá-lo, bocado
Por bocado, em boca sequiosa por um beijo.

Sem embargo, tu não te rendes aos meus desejos
Mais rútilos, de fruta caída do pé de árvore,
Despedaçada aos teus pés de anjo, tão docemente
De lascívia aos desfrutes dada, devoradora.

Ah! caso eu pudesse… mastigava-te, frutinha
Por frutinha, como se colhesse uma flor, feita
De amor e artimanhas muitas, a carícia eleita,

O dengo escondido na víscera de perfeita
Criatura: mulher, ainda que demais aflita
Ou afoita, suscetível aos temperos da cólica.

Autor: Edigles Guedes.


Pensares de Fortes



A brisa, em seguida,
Embirra, faz bico,
Assenta sua língua
Pra fora da boca.

Eis o Eu desnutrido,
Sem trens de ninar,
Sem mãos pra nadar,
Ainda no berço.

Me sinto o sentido
De afável ternura,
Sem dita bravura;

Sonhando, alicerço.
Pensares, doridos;
De fortes, vividos.

Autor: Edigles Guedes.


Sussurro e Murro



Um ventilador
Resolve ficar
Quieto, caluda!
Um vento de dor

Dissolve finar
Seleto; boazuda
Germina na flor,
Gerando sabor

Aos puros de dor.
O gesto, que Amor
Me grela o ferrolho,

Que ponho de molho.
Escuta o sussurro
De boca no murro!

Autor: Edigles Guedes.


Bem-te-vi — Dois



Bem-te-vi, ó meu bem-te-vi!… Por que choras assim?
Eu sou teu irmão de bico e cântico, repito,
Pois, as mesmíssimas palavras frequentemente;
Não me assombro com isto, ao contrário, desencanto

Varre o meu íntimo, em cabal tristura; suplanto
Tudo com sorriso sonâmbulo pelos dentes
Da boca, adormecida pelo meu canto tão fácil…
O canto não é ledo, nem triste; antes de tudo,

É somente sóbrio, como sóbrio são as manhãs
De Primavera no Sertão adentro ou afora;
Maiormente, sóbrio e seco; tão seco, que amarga

A língua do dizente, expondo o retirante
Ao risco de viagem renhida para longes
Terras, tão distantes do lar e do meu cantar!…

Autor: Edigles Guedes.


Febre — Quatro



Tenho febre. Tenho febre. Febre
Com pintas de tais letras maiúsculas,
Capaz de rilhar os dentes. Fome
Finita veraz febre lateja…

Janela veio bradando por febre…
E tenho as mãos amargas, os pés
Tão tristes de febre, que me arde
Na boca, na língua, nos devassos

E vãos olhos, na velha e tardia
A tez, na fronte de paquiderme.
Confesso que gosto de escrever

Com febre; todavia, o que se escreve
Com febre, quando se está são,
Não vale sequer tostão furado..

Autor: Edigles Guedes.


Peito Magoado



Olhos fitos em rosto soberbo;
Surdos, rimos da prova sem dor;
Duros mimos em colo travesso;
Mudos tidos os lábios reversos…

Como falas de vil desamor?
Há bafejo de biltre meloso?
Tinges face de rúbida cor;
Calas gesto nos ares; quimono

Cai bocado, de flanco, silente;
Tapas boca com dedo em riste.
Certo, boa sentença brandiste?

Cá, que nunca! Largaste pingente
Dado… Feres o peito magoado,
Como fera com dente crispado!

Autor: Edigles Guedes.


Mar em Fúria



O túrbido mar, que canoras as ondas
Se vão triturando, rasgões, hediondas
As vozes das águas em fúria gigante.
Agita desânimo dentro da gente.

Carótida pulsa com medo faiscante.
O corpo, de mórbido, estático; sente
As pernas, de trêmulas, tácitas; quente,

O ventre carece de pulo por boca
Afora; suor escorrega por face,
Agora; bastante gagueja por mouca
A mente. Sossego que tanto me lace

No tempo de duro perigo flagrante!
Cabelos de mar? Evadidos. Demente,
Se dana com náufrago o barco decente.

Autor: Edigles Guedes.


Quesito: Gato



Um gato me galga…
Um bicho trombudo,
Com mimo troncudo,
Capaz de arrepios

No peito da gente…
As quatro canelas
Provocam canseiras
E diz-me asneiras,

Ao pé de ouvido…
A boca boceja,
Ronrona: cereja

Que lambe sua pata
Andeja. No rabo,
Solfeja, me acabo…

Autor: Edigles Guedes.


Quimeras, Ficção




Quimeras flutuantes,
Que dão-me muito gosto
À boca degustante!

Os sonhos já vetustos
Estão. O que comento,
Em noites vãs, sozinho,
Sentado no terraço

De casa, com cachorro,
De viés, olhando, manso?
Cadeira de balanço,

Embal
a-me no colo!
O dedo, quieto, coça
Cabeça fatigada…
Ficção desdenha,
troça!…

Autor: Edigles Guedes.



Regaço



Suspenda os passos…
Suspiros que bailam
Em boca tardia…
Confesse, me ama,

E vamos à cama…
Espera os laços
De surdos abraços…

E, hoje, me brindam
Os beijos de lábios…
Os ditos sábios,
Ao pé de gemido…

Regaço cerzido
À nota bravia,
De quem te colhia…

Autor: Edigles Guedes.


Mastigado



Que é mastigado?
O dono minguado,
De peito fechado,
Em carro blindado?

Pudera!… De pronto,
O texto remói;
Conversa, que dói,
Me deixa por tonto!

O vão, dissecado
Discurso; cajado
Em mão; abafado

Sorriso, que conto
De boca aberta;
Sinal de alerta…

Autor: Edigles Guedes.


Baixei a Lenha



Chorei a noite toda
Por Dama fútil, moda
Piegas, mundo velho.

Mamei à tarde; soda
Bebi; a cama faço;
Tossi; a perna passo.

Larguei o senso relho
Por siso novo; roda,
Que viva, faz-me troça!
A onça bruta coça;

Guará que rude roça.
E piso bota, poça;
E riso brota, boca.
Baixei a lenha rouca!

Autor: Edigles Guedes.


Rasga Carne



Lanço flores, ao vento;
Peço cores, ao tempo;
Canto dores, à tarde;
Dentro, peito que arde!

Sinto boca sedenta;
Minto: ninho sustenta
Pinto
— fome aumenta?

Lanço chores, ao vento;
Danço dores, de manha;
Dó e flores acanha;
Canto peito chaguento.

Finjo pouco ciúme;
Faca: muito de gume,
Rasga carne
— estrume!

Autor
: Edigles Guedes.


Pirulito, Menina



Cilindro e esfera
Unidos: pirulito.
A língua acelera
O gosto de pantera.

A boca, em berlinda,
Mastiga guloseima.
O dente regozija!
O lápis que redija:

Bastante felicito
O suco benfazejo
— Açúcar e desejo.

Menina, que infinda
A lágrima me teima?
Amor de a toleima!

Autor: Edigles Guedes.


Gastura



Vazio no bucho,
Incômodo bruxo.
Será que o luxo
Está de plantão?

Desejo na boca,
De grávida louca
Por tudo e rouca
A voz de sermão.

Estar de um mal,
Capaz de botar
Pra fora um tal

De til no acento.
Deitado no lar,
Me sinto birrento!

Autor: Edigles Guedes.


Risco de Giz



Cachorro zurze
A mosca torpe.
Fastio sinto
Em boca torta.

A dor molesta
A carne morta?
Um quadro pinto?
Amor encorpe!

A linda urze
Encanta olho.
A tez recolho.

A onça, besta:
Que sabe, diz?
E risco, giz!

Autor: Edigles Guedes.


Envergonhada



Espirro (que melódico!)
Escapa por goela
Afora. A moela
Se faz de a pejada.

Escondo (que metódico!)
A boca infratora,
A vil degoladora
Dos vezos salutares.

Você me escarnece,
Ação indesejada
Que logo alvorece.

Você, envergonhada?
A dona de cismares
Que mil me desagrada?

Autor: Edigles Guedes.

Figura



De mim, desperdícios.
Os olhos, bulícios.
A cócega torta
Na mão longilínea.

Olhares de morta.
Detém retilínea
Figura no beco
Da boca sedenta.

Sedenta por beijo,
Carícia e eco
Da voz. Acalenta

O ser por um queixo
Caído e jeito
De bravo o peito.

Autor: Edigles Guedes.


Ovo: Pinto



Os olhos que fito.
A boca aberta.
A casca de ovo
Na mão, que estala.

Calor, frigideira
Que assa de novo.
Silêncio à trova.
O ovo, que frito,

Pipoca. Alerta,
Piá, me comovo.
Canção que embala.

Chiar, chocadeira.
O pinto aprovo,
Que salta da cova.

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...