Cavalo



Cavalo partiu.
Corrida surgiu.
A crina que voa
Bastante, de tola!

Os pés de poeira
Sustém capoeira
No ar. A coceira
Me pega; bobeira

De quem a tristura
Amarga, teimoso.
Cabeça: fritura

Ao vento viçoso.
O trote censura
Arrojo mimoso.

Autor: Edigles Guedes.


Sapato de Cinderela



Carruagem bela…
Partiu Cinderela,
Deixando sapato
Ao léu, na calçada

Do palácio grave.
O Príncipe cuida
Daquele calçado,
Do jeito que fosse

O seu. De sensato,
Retém na fachada
Objeto suave.

E sonha com ida
À dona. Amado,
Que sofre de tosse!

Autor: Edigles Guedes.


Bosque



Caminho por bosque.
A dura cerviz
Dispõe os apuros
Contigo, Senhora.

Remédio que há?
O simples parir
De pernas, carreira.

Você? Desenrosque
A cara! Prediz
Profeta o furo
No muro, agora.

Raposa, de má,
Que vá colorir!
Que venha asneira!

Autor: Edigles Guedes.


Quieto



Ficar quieto
E ver manhã,
Aos poucos, ir
Embora. Sol

Desperta tarde.
Conhece Marte,
Planeta rude,
De rubro grude?

Carmim, destarte,
Se foi; alarde,
Se não em gol.

Recém, dormir
À Noite chã,
Em nosso teto.

Autor: Edigles Guedes.


Aurora



Enfado me chega
Em hora marcada?
Aviso mandar?
O nem que em sonho!

Aquela aurora
Que nunca me veio,
Passou de mansinho
E fez um carinho,

De longe. Alheio,
Desfaço, agora,
O cenho tristonho.

Navego por mar?
A onda agrada?
O lar se achega…

Autor: Edigles Guedes.


Altura e Largura



A essa altura,
O bonde partiu,
O peito tremeu,
A Lua gemeu.

A essa largura,
O conde ganiu,
O cão desistiu,
O gato moeu.

A essa altura,
Visconde bramiu,
O leito comeu.

A essa largura,
Responde coibiu,
O chão me encheu!

Autor: Edigles Guedes.


Venço por Estouro



Em vendo, contristo,
Por rosto de misto
Salgado com doce.
Persiste; esboce

Carinho; desenhe…
A gata, que prenhe,
Me faz a carícia
De moça. Felícia

Sorri da agrura.
Fremiu criatura
No berço de ouro?

Vivi desventura.
Sofri de secura;
Mas venço, estouro!

Autor: Edigles Guedes.


Balanço



A mão no balanço
Me causa abalo.
Vestido flutua.
No peito tatua

A voz caprichosa…
A mão que repousa
Em rude o homem…
A gata ditosa

Me causa estralo.
Cruel, dolorosa,
Que desce da nuvem.

E fingo que vejo;
E tudo desejo;
E nada alcanço.

Autor: Edigles Guedes.


Beijo?



Ao pé da porta,
Avisto torta
A moça. Minto;
E nada vejo!

Em pé, escuto
A voz de meiga
A Dama. Leiga
Me chama. Bruto,

Atendo. Passo
Portal. O braço
Me treme. Sinto

Amor no bucho.
Será o luxo,
O árduo beijo?

Autor: Edigles Guedes.


Declaração de Amor



Declaro amor,

Que sinto por ti.
Incluso no peito
Me arde de jeito

Afeto benquisto.
Quieto, conquisto
O teu coração.
Detém-me calor

De mãos que afagam
A face secreta.
Me lança a seta,

Alveja-me. Vi
No piso um cão.
Os membros me chagam!

Autor: Edigles Guedes.


Mosca



Apoquenta-me muito
O zunir de mazela;
O punir amarela
A trombinha, intuito

De sondar a comida.
E coçava as patas
Dianteiras, por lida.
Adejavam piratas,

As cantigas de ansas.
Detrimento de mim,
Enricava a pança.

O açúcar escapa…
O sorriso de ti…
O caminho derrapa…

Autor: Edigles Guedes.


Risco de Giz



Cachorro zurze
A mosca torpe.
Fastio sinto
Em boca torta.

A dor molesta
A carne morta?
Um quadro pinto?
Amor encorpe!

A linda urze
Encanta olho.
A tez recolho.

A onça, besta:
Que sabe, diz?
E risco, giz!

Autor: Edigles Guedes.


Aqui



Estivesses aqui…
Universo seria
Um pontinho, dotado
De airosa prudência.

Estivesses aqui…
Coração pulsaria,
Retumbante, mimado
Ao sabor da cadência.

Estivesses aqui…
Em bebê tornaria,
Criatura de flor!

Estivesses aqui…
De feliz, pularia
Um qualquer por Amor!

Autor: Edigles Guedes.


Rolinha



Soez Columbina
Acorda-me… Sina
De quem entristece
Por colo, manceba!

Invade terraço,
Com sua zoada;
Chilreia toada
No nosso regaço.

Rolinha que tece
Manhã venturosa.
A mão ou benesse

A mim que receba!
Obtenho, sentido,
Peleja que lido!

Autor: Edigles Guedes.


Manteiga em Fuça de Gato



Cartaz: a madame
Sorri e convida.
Um mundo de sonhos,
Que abre janelas.

Por mim, desfastio
Que bate à porta.
Cansado, semeio
As plantas em horta.

A moça, que brame,
Me chama — quimera!
Almejo milagre.

Da vez, propaganda:
Passar a manteiga
Em fuça de gato.

Autor: Edigles Guedes.


Noite



A Noite ruge.
Um lago plácido
Destrói o ácido
Humor, que muge.

A vaca, dente
A dente, mói.
Capim ridente.
A Dor me dói!

A brisa uiva
Um vento brando…
Estrela ruiva

Destila pando
Viver. Espaço:
Iglu abraço!

Autor: Edigles Guedes.


Coração



Durante verão,
O canto de rio
De águas vibrantes
Me deixa tocado

Por árias profusas.
E há passarinhos
De penas vistosas.
Porém, coração

Detém-me. O cio
De cenhos gigantes
Me põe afetado.

As luzes difusas

E fazes biquinhos

Senhora, que prosas!

Autor: Edigles Guedes.


Brado



E vi, melindrado,
Os olhos de gázeos
Fulgirem defronte.
A Dama
quimera

De sonhos
almejo;
Porém, por distante
Ambula. Conhece

Desejo blindado?
Os braços de brônzeos
Fulguram.
A fronte,
Ao ver-me, gemera!

Cruel azulejo
Reluze. Flagrante
De brado perece!

Autor: Edigles Guedes.


Ingrata



E fora de si,
De tão descontente,
Caminho por rua.
Asfalto tolero.

O pé, que resvala,
Me fala de ti,
Ingrata por tudo!
De mim, um suspiro

Voava em giro,
Em vão, o dolente.
Navega a Lua.

O mar, de sincero.
Estrela pedala.
O vento, saúdo.

Autor: Edigles Guedes.


Sorriso



Sorriso brando, que me apavora.
De vez em quando, (confesso, ora!)
Me põe de joelhos dormentes, como
Laranja lívida sem o gomo.

O braço bambo, que me devora.
Que lê os lábios, em boa hora;
Movê-los nunca, me sabes tomo
De livro aberto. Gracioso gnomo

Que sou! O gesto, que me censura,
Por riso intruso em conversa alheia.
Se brinco brusco contigo, freia

O labro. Fito a chiclé cintura,
Que bota siso em cachola dura.
Birrento fogo, que me apura!

Autor: Edigles Guedes.


Planeta



Há mentecapto com asneira:
É lagartixa com coceira;
É macaxeira com doideira;
É a salsicha de bobeira;

É a torneira ressentida;
É tartaruga de perneta;
É o molusco com careta;
É a zonzeira acolhida;

É caramujo de torcida;
É madrugada aturdida;
É taturana com zambeta;

É a mangueira que convida
Para banquete, despedida.
Eis que biruta, o planeta!


Autor: Edigles Guedes.


Mundo



Há o mundo virado:
É cachorro com tosse,
É lagarto com posse,
É mosquito a nado,

É o gato com fogo,
É o rato com gosto,
É o pato disposto,
É o mato de rogo,

É ouriço com medo,
É toutiço de ledo,
É o grito com gripe.

É papel com o clipe.
É a lesma de jipe.
Eis que mundo azedo!

Autor: Edigles Guedes.


Fuxico



Ao nosso encontro,
Assíduo que fui.
Instante, espero.
Parece eterno

O tempo puído.
Eterno, advém,
Amor que dedico.
Anil desencontro

Pintou, por ali.
Minutos, tolero.
Aspiro a terno

O cenho moído
Por lágrimas sem
Calor ou fuxico.

Autor: Edigles Guedes.


Piedade



Tristíssimo ai!
Carpi simplesmente
Por ti. Piedade
De mim
Sentimento

Aquele olvido,
Depois que te vi
Partir descontente.
E não me chorai!

Me faço semente
De rude. Agrade
O vil pensamento,

Que anda descrente
De mim
Sucumbi
No val,
aguerrido!

Autor: Edigles Guedes.


Baldio



Que não te falei?
A noite deturpa
A vista dos olhos.
Aqui, destravei

O riso meloso.
Coruja, que pia,
Me dá arrepio.
O mito sedoso

Invade bravia
A mente; usurpa;
Congela medroso

O corpo. Notei.
Terreno baldio,
De onde cismei.

Autor: Edigles Guedes.


Selinho



Balouça cadeira.
Varanda imensa.
Estima intensa.
Quieta lixeira.

E digo asneira.
E fico de birra.
Você me acirra
O ânimo. Cheira

Cangote. Meiguice
Me põe avexado.
Selinho vingado.

Você de denguice
Me deixa afável,
Amor formidável.

Autor: Edigles Guedes.


Paz



Além do mais,
Vagido traz
Saudade rude;
Ao peito, grude,

Por sóbria surda
Que não me quer
Em seu regaço.
O ah! abraço

Que laça troço,
Pescoço. Ouço.
Supõe me ter.

Que há demais?
Gentil a paz
De tão absurda!


Autor: Edigles Guedes.


Desleixo



De resto, sobrou
Sorriso azedo,
Pitada de medo.
Espécie dobrou

De leda folia
Por quem me queria
E pouco que fez
Pra ter-me na tez


Colado jungidos.
Reféns compungidos.
Afetos detidos

Por simples o beijo.
Areia e seixo

Na praia, desleixo?

Autor: Edigles Guedes.


Escape



Centavo, no bolso.
Caminho por rua
Estreita. A Lua
Desbota um riso.

Estrela espreita
Casal carinhoso.
Um grilo manhoso
Cantava; enjeita

O papo de sapo;
Coaxa sorriso.
Mansinho que piso.

A mão desembolso.
Convém, por fiapo,
Um lindo escapo.

Autor: Edigles Guedes.


Czarina



Tomava tenência,
De modo que toma
A xícara forte
De chá vespertino.

Sentado, à mesa,
Admiro o rosto
Que tanto fascina.
Sinal de demência?

De sério, retoma
Monárquica sorte.
Me faz, por latino,

Amar a bruteza,
Que tanto desgosto
Suscita, czarina.

Autor: Edigles Guedes.


Envergonhada



Espirro (que melódico!)
Escapa por goela
Afora. A moela
Se faz de a pejada.

Escondo (que metódico!)
A boca infratora,
A vil degoladora
Dos vezos salutares.

Você me escarnece,
Ação indesejada
Que logo alvorece.

Você, envergonhada?
A dona de cismares
Que mil me desagrada?

Autor: Edigles Guedes.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...