Tino



Que fiz o papel
De dura a pedra?
Você, por haver,
Também, me causou

Desgosto no peito.
Estamos isentos
De culpa, sereia…
E sou menestrel?…

Canção, que desmedra,
Ardendo por ver
A ti, me botou

Alheio ao jeito
De teus sentimentos…
O tino refreia…

Autor: Edigles Guedes.


Figura



De mim, desperdícios.
Os olhos, bulícios.
A cócega torta
Na mão longilínea.

Olhares de morta.
Detém retilínea
Figura no beco
Da boca sedenta.

Sedenta por beijo,
Carícia e eco
Da voz. Acalenta

O ser por um queixo
Caído e jeito
De bravo o peito.

Autor: Edigles Guedes.


Circo



Ao ler o cartaz,
Descubro o circo.
Ainda rapaz,
Encanto-me. Cisco

Tombou dos luzeiros.
Pernaltas, palhaços,
Convém dançarinas,
Sustém trapezistas.

Os mágicos viste.
Baixou o Cruzeiro,
Fugiu embaraços,

Murchei as narinas,
Forjei as artistas.
Enlevo sentiste.

Autor: Edigles Guedes.


Babado



Amor que sabido
De dura a pena.
Por bicho, tomado;
Humor arredio.

Amor que descuido
O meu, me serena.
O lixo, aguado;
Tumor, arrepio.

Amor me depena!
O homem esguio,
Nariz de hiena.

Amásio barbado
Puxou assobio.
Mulher de babado.

Autor: Edigles Guedes.


Romana



Dedilho a flauta,
Que doce trauteia.
Os males espanta;
Enquanto divirto

Ouvidos quebrados,
Por casos diversos.
A gota da fúria
Consome o nauta,

Que tanto tateia
O mar de giganta
A onda. Advirto:

Os pés, alquebrados,
Por versos dispersos,
Romana espúria.

Autor: Edigles Guedes.


Socorro



Enquanto sorria,
O tórax balança,
Volita a trança,
A tez me alcança.

Enquanto corria,
O choro cessava,
O lodo mimava,
O silvo medrava.

Enquanto sorria,
O pé convidava…
Lascívia que brada!…

Enquanto corria,
O pé resvalava…
Socorro, alada!…

Autor: Edigles Guedes.


Convés



Comi. De viés,
Falei: — Que comida
Soberba! Brinquei?
Verás que a vida,

De livro aberto,
Ensina cartilha.
Querer a sextilha
De beijos, decerto.

Comi, de revés,
Os vossos mirantes.
Advém, no tocante.

Convés que fiquei
Por ti, esperar…
A onda pingar…

Autor: Edigles Guedes.


Grito



Impulso de bom
Falar, que se freia.
Amante de tom
Acerbo, que feia

A voz arrebenta
Em teus desgarrados
Ouvidos. Pimenta…
Consumo arados,

Labuto a terra,
Ofício na serra.
E tudo que faço;

O faço calado:
O grito do laço,
O riso cansado.

Autor: Edigles Guedes.


Confidente



Que vês? Cercanias?
Retém Ananias?
Convém litanias?
A fúria tinias?

Natal que passou.
Janeiro se foi.
Abril que tardou.
A chuva que
vai;

Porém, negativa.
Afirma o boi.
E
muge, furtiva.

No peito vidente
Cintila um ai!
Estou confidente…

Autor: Edigles Guedes.


Refém



O pobre de mim!
E desde que vi
Os olhos, me ri.
Refém que de ti

Me fiz, por amar.
Mas, como domar
Amor e corcel
No mesmo pincel

Que pinta o céu?
Azul com o mel,
No árduo papel.

Depois, o pastel
Petisco… Esqueço
De ti; amanheço.

Autor: Edigles Guedes.


Leito



Pinóquio à mesa.
O vento volteia.
Um forte briguento
Disputa por mão

De bela donzela.
E durmo que deito.
Convém contramão.
Lobato, franqueza.

Aranha em teia.
Sabugo sedento
Discute com cão,

Por tênue mazela.
E pouso no leito:
Cabeça, que não…

Autor: Edigles Guedes.


Cochilo



Matraca que feche!
Silêncio, melhor.
E bem que me cata
Piolho visível

Aos vossos luzeiros,
Enquanto cochilo
Em vossos abraços.
O arco me fleche!

Quieto, Amor!
Calor que me mata
Por dor aprazível,

Prazer por inteiro;
Enquanto, tranquilo,
Repito os laços.

Autor: Edigles Guedes.


Durmo



Deslizo suave
Por cútis de ave
Faceira e breve.
Senhora que leve

O peito pra si;
Mas, deixe sorrir!
Sorriso me mata;
Sorriso de gata

Em cio fervente.
O ai! indecente
De beta com pi.

De tanto fremir…
E durmo ao cabo,
Ainda que brabo.

Autor: Edigles Guedes.


Olhos



Aqueles olhos grandes
Que cortam voz de súbito.
E eu que sou o súdito:
Vassalo teu. Me brande

Espada, quis graúda.
O peito teu que pulsa.
Bater o sus! Expulsa
Os lábios teus, miúda?

No sonho vi: cavalo,
Ginete, mão de ferro,
A terra fértil, valo,

Castelo forte, tarde…
Aqueles olhos… Berro.
A alma ferve, arde!…

Autor: Edigles Guedes.


Penas



Semeio as penas
A quem desmerece
As penas de Dor.
Desdém por Amor,

Que planta, silente.
Cultivo semente,
Dispõe-me contente,
O homem carente.

Careço de plena
A paz da folgança,
Calor, abastança.

Careço de prece.
Guarneça a flor,
Acaso se for!…

Autor: Edigles Guedes.


Ovo: Pinto



Os olhos que fito.
A boca aberta.
A casca de ovo
Na mão, que estala.

Calor, frigideira
Que assa de novo.
Silêncio à trova.
O ovo, que frito,

Pipoca. Alerta,
Piá, me comovo.
Canção que embala.

Chiar, chocadeira.
O pinto aprovo,
Que salta da cova.

Autor: Edigles Guedes.


Nome



Coisa feia
É a fome;
Coisa, não, que
Tanto come

Tripas; mói os
Muitos dengos;
Rói miolos;
Dói os quengos;

Há as voltas;
Há herói?
Há mingau na

Boca, sói;
Resto é
Nada, nome!

Autor: Edigles Guedes.


Quixote



Um pouco de pão,
Sacio a fome.
Aperta barriga
Com sinto fortuito;

Mas, inda que há
Um pingo de mel
No fundo do pote.
Um pouco de mão

E nada consome.
A preta da briga
De cinto e muito.

Mas, inda terá
Cadinho de fel
No mundo, Quixote!

Autor: Edigles Guedes.


Meninice



Estômago vazio;
Caminha apetite
De rápido em brio,
Barriga que habite

A fome de costume!
A sede me aprume!
Um copo que de água…
Equívoco me faz…

Um cálice de mágoa…
Deslize que me traz…
Carece de tormentos

A vida de ledice?
Almejo de lamentos
O fim — que meninice!

Autor: Edigles Guedes.


Sapatos; Sapato



Guindados urubus
Nas caixas de bambu.
E hão de obsoletos?
Apenas minuetos

Aos pares parecidos.
Às vezes, esquecidos
Em borda de armário.
Que há da serventia?

O jeito dromedário
De ser, por valentia.
Desejo por canário;

Entanto, por sapato
Nasceu, o caudatário,
Que vive de vibrato.

Autor: Edigles Guedes.


Café, o Outro



A liça judia?
A cruz me redime?
Passado espia?
Presente oprime?

Futuro fervia?
Agouro deprime?
Cadarço servia?
Sapato reprime

O pé ardiloso?
O fuste manhoso,
De líquens chorosos,

De próprio conhece?
O céu amanhece.
Café arrefece.

Autor: Edigles Guedes.


Besouro



Debaixo da mesa
Esconde besouro,
Que sonda tesouro
E tanto sopesa.

Besouro, amigo,
Que leva consigo
O casco: castigo
Por casto perigo.

Existe defronte
A si um geronte
Que sou, por incúria.

Malgasto a fúria.
Sandália desfiro.
Adeus! interfiro.

Autor: Edigles Guedes.


Aos Ombros



À boa ventura,
Velejo por mar,
Que torna sonhar
Um meigo penar.

A pena censura
O meu vaguear.
Piloto por ar,
Que gozo por lar.

O vivo no mundo
Da Lua me cabe.
O quê me desabe?

Almejo fecundo
País de assombros,
Que cumpre aos ombros.

Autor: Edigles Guedes.


Cardeal-do-Nordeste



Por galo-de-campina
Conheço passarinho
De cor, que escarlate
Pintou caraminhola.

Granívoro, degusta
Caju e a semente
Engole por inteira.
A sobra? O sequer

Sonhar por um qualquer!
Ingere seriguela.
Pacífico, gorjeia,

Com jeito de insano.
Sublime em textura,
Afasta-me tristura.

Autor: Edigles Guedes.


Cigarra



Chichia por tarde
Afora. Alarde,
Amor, que namora.
No cio, canora

A perna vadia.
Devassa o dia.
E quando vigia,
À noite, fingia.

Cicio mugia
À caça de jia,
A fim de consolo

Por duro tijolo:
Morada pequena,
A alma depena.

Autor: Edigles Guedes.


Formiga



As pernas esticam
Carreira; volvera.
Andeja. De canto
A canto, perquire.

Antenas suplicam.
Socorro de fera.
O quanto e tanto
De tênue adquire.

Escapa de botes
Certeiros do trágico.
O truque de mágico

Em átimo lúdico.
O hino talmúdico
Entoa aos lotes!

Autor: Edigles Guedes.


Bolo



Ficar avexado
Por gula assaz.
Deixar o legado.
Goela capaz

De sóbrio deleite.
Sabor: guloseima
Que bota a gente
De boca aberta.

O cheiro de leite.
O ovo que teima.
A massa ridente.

A mão que alerta
Me faz bissetriz.
O dó contrafiz.

Autor: Edigles Guedes.


Mar



O mar que bravio
Retumba; carpia.
O há de baldio.
O sem-alegria

Em vida sofrida
De luta renhida.
Os sonhos pressagos
Esparze afagos

Em ser de descuidos.
As ondas, em fluidos,
Desatam a corda.

Navio acorda;
Escampa sombrio
E só no estio.

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...