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Natal, o Outro



Me cumpre pedir
Bocado de paz.
Menino Jesus,
Atende a prece.

Me cumpre sentir
Pecado voraz?
Menino e Deus,
Por ti esmorece

O homem tirano!
Que posso o dano
E faço, mas sano

Injúria com pranto?
Sossego que canto
Ao pé sacrossanto!

Autor: Edigles Guedes.


Resta-me



Quão graúdo é fugaz desarranjo!
Não do meu intestino frouxo,
Que fica pesado de fezes,
Mas nunca pesado de amor!

Resta-me o sorriso, que arranjo
Num canto arnês de lábio roxo.
Desfaço o laço de talvezes,
Quando desce o tardio sol-pôr.

Resta-me o debique, como arte
De amor frustro ou fúria medida
Nos dedos da mão comedida.

Resta-me o silêncio, como arte
Que restruge nos meus ouvidos,
Agora, moucos, por olvidos.

Autor: Edigles Guedes.


Mente Vitrola



O vão desperdício
De léxicos, cios
De gatos nas telhas.
De fato, nas quelhas

Embrenho-me, sigo
O signo de amigo,
Na falta de flauta,
Pra canto e consolo.

O brado de nauta
Me faz acordar.
Comprido de sono,

Me volvo a xingar:
Que vá, carambola!
A mente vitrola.

Autor: Edigles Guedes.


Bem-te-vi — Dois



Bem-te-vi, ó meu bem-te-vi!… Por que choras assim?
Eu sou teu irmão de bico e cântico, repito,
Pois, as mesmíssimas palavras frequentemente;
Não me assombro com isto, ao contrário, desencanto

Varre o meu íntimo, em cabal tristura; suplanto
Tudo com sorriso sonâmbulo pelos dentes
Da boca, adormecida pelo meu canto tão fácil…
O canto não é ledo, nem triste; antes de tudo,

É somente sóbrio, como sóbrio são as manhãs
De Primavera no Sertão adentro ou afora;
Maiormente, sóbrio e seco; tão seco, que amarga

A língua do dizente, expondo o retirante
Ao risco de viagem renhida para longes
Terras, tão distantes do lar e do meu cantar!…

Autor: Edigles Guedes.


Febre — Três



Nesse torto instante, tenho febre.
Não sei se existo; para que existo?
Se a Existência me contamina
Com febre hidrófoba, ciciando

De febre curva na minha vida…
Esta febre que, com depressivo
Olhar, me bota em canto de quarto,
No aguardo possível de um surto

De cólera ou será de loucura?
Já não sei o que sinto, sentido;
Já não sei o que penso, pensado;

Já não sei se minto, quando calo
A voz piedosa do coração.
Ah! o elixir que me deixa são!…

Autor: Edigles Guedes.


Manhãs



Amo as manhãs que tecem as plácidas nuvens no céu…
Amo o salgueiro imponente, embalado pela canção
Vã de ninar dos ventos sibilantes; tardo, pois não…
Amo as tardes sonolentas de brinquedos senis…

Quem escondeu o meu trenzinho de metal tão barato?…
Quem me ofendeu com sorriso desmazelado, sem tato?…
Quem me desceu a mão, com violência, fazendo-me triste,
Como triste é o canto da araponga?… Minto? Me riste?

Amo o tinir inexorável do ritmo do relógio…
Amo o frigir dos ovos numa frigideira qualquer…
Amo o pingar das águas no chuveiro, banho me quer…

Quem escondeu o meu queijo de Bodocó, desacato?…
Quem me ofendeu com esgares de palhaço?… Caminha pato,
Jeito de quem desengonçado repara o cós da calça…

Autor: Edigles Guedes.


Quebranto



Deserto daquela
Me quis cabisbaixo.
Mas sou contrabaixo
De cor amarela.

Suspiro desata
Um nó de bastardo
Viver, que galhardo
Me poupo pra data

Propícia ao pranto.
Por isso vocábulo
Ribomba: eu canto!

Por isso retábulo
Encanta: suplanto
Maciço quebranto!

Autor: Edigles Guedes.


Desaforo



Não me faça desaforo!
Não tolero desatino!
Não suporto violino,
Como canto duradouro,

Numa tarde graciosa!
Onde fica o sentimento,
Já crescido no tormento?
Terra bruta e preciosa

É capaz de partejar
Bons os frutos, com as flores
Lindas? Nau de baldear

Entre ditos e gracejos.
Faca puxo de vapores
Mil, mas feitos a bosquejos.

Autor: Edigles Guedes.


Rendição



Eu me rendo desbragadamente…
Como não ceder à tez ardente?
Como não falar de mãos arteiras?
Como não calar o peito calmo?

Caso sei a dor que teima tanto
Dentro de mim? Caso sei o quanto
Custa-me dó sem o ré de fá?
Puxo mesa, bule, tomo chá.

Eu que sei: bandeiras despregadas
Mais que voam, voam, quando cheiras
Meu cangote, deixas as pegadas…

Corpo tine nome tão de almo…
Solfo canto doce: desatino…
Solto pranto, sinto? Azucrino…

Autor: Edigles Guedes.


Lençol e Vida



Criança, te cubras!
Lençol será curto?
É sobejamente
Curto, de tão pouco…

A cama constrange?
Demais, fartamente.
Viver será rosas?
Existem espinhos!

E sei que eu sei…
Bandeira de paz?
Um canto de trégua?

A vida é dura;
Mas fino sorriso
Me custa nadica!

Autor: Edigles Guedes


Fusca



Besouro estranho,
De quatro as rodas,
Que dormem bastante
Em canto, garagem

De casa boboca.
Capuz bacoreja
Sorriso, de quem?
Besouro castanho,

Limão à desmoda!
O dócil volante
Encanta. Discagem

Mecânica, boca
Da chave, cereja
De bolo, aquém.

Autor: Edigles Guedes.


Coração



Durante verão,
O canto de rio
De águas vibrantes
Me deixa tocado

Por árias profusas.
E há passarinhos
De penas vistosas.
Porém, coração

Detém-me. O cio
De cenhos gigantes
Me põe afetado.

As luzes difusas

E fazes biquinhos

Senhora, que prosas!

Autor: Edigles Guedes.


Formiga



As pernas esticam
Carreira; volvera.
Andeja. De canto
A canto, perquire.

Antenas suplicam.
Socorro de fera.
O quanto e tanto
De tênue adquire.

Escapa de botes
Certeiros do trágico.
O truque de mágico

Em átimo lúdico.
O hino talmúdico
Entoa aos lotes!

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...