Mostrando postagens com marcador Horas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Horas. Mostrar todas as postagens

Baba de Caim



Retiro um papel cru da gaveta,
Está sujo, empoeirado pela
Sarjeta do tempo obscuro, além;
Distante, escuto um coro de améns,
Entoados pelas muitas cigarras,
E cada uma espantando os seus males.

O papel em si, é simplesmente
Um papel comum, sem os rabiscos,
Sem escritos ou linhas de pautas,
Mas suspira, como vivo fosse.
Tenho tosse, resquício de tarda
Pneumonia, que afetou meu filho.

As Horas gotejam tão demente
A derradeira baba de Caim!

Autor: Edigles Guedes.


Livro, Soprano



O prazer corpóreo desse livro,
soprano!
Apalpar a carne ou couro, quando encapado
Explorar a letra impressa, de saltimbanco
E ninar em dedos lívidos o tamanho

Das palavras, ora níveas, ora sombrias

Acalento, meu regato muda-se em berço
Pra acolher desejo, fato estranho, inconfesso,
Que prolongo, incertas horas ficam de brisas,

O deleite frui, fruição de quem se enamora
Por estreito corre-corre, como formigas
Em fileiras
dó, desgosto forte, mitigas.

E mastigas dote, posse dada, demora
Do contato feito, mãos em dança por folhas.
Entretanto, sofro muito gozo, às escolhas.

Autor: Edigles Guedes.


Incômoda



A líquida Hora, coagulada no ferver do bule,
Me põe tão cabisbaixo, por pensar no verso líquido,
Que não vige por páginas e páginas além!…

Mas, antes, fica embatumado na garganta, sem
Saída por cano ou por linguagens distintas… Físicos
Sentidos, por obséquio, sua Morte nefasta pule!…

Os lânguidos gemidos do meu cérebro confrangem

As tísicas moléculas da fervura no bule,
Com água desperta às três horas da manhã de agosto…
Prossigo na tarefa ingrata de muito rancor…

Me causa palor nas faces túrgidas, de proposto
Depósito de amarguras, que me ferem e rugem…
A mosca, incômoda e formidável, minhas mãos tangem;
A dita, contudo, insiste: putrefatos de amor!…


Autor: Edigles Guedes.


Andorinha



Chutei um balde
com Horas:
Um pontapé retumbante!…
E cavalguei por esquinas
E ruas, todas pintoras

De angústias chocas, bastantes
Sequiosas… Mágoas sentidas
Por quem caminha nas quinas
De mesa de escritório,

À caça de algum poema,
Jamais escrito na noite,
Que cedo se avizinha…

Ah! doce andorinha, minha
Parceira de quarto e sala
De mundo lúrido, cala!…

Autor: Edigles Guedes.


Meu Filho



E fazia-me de cavalo crédulo, pelos prados
Da América; enquanto deleitava-me com as Horas,
A passearem por ruas mofinas — longas demoras!
Que infindas Monotonias partiam ao meio alados

Versos! Indignos de constarem numa ata de reunião…
O que dizer de constarem num livro aberto ao sol?
Brincávamos de esconde-esconde em terra imaginária…
Jamais a Terra do Nunca haverá de se comparar

Aos campos, viçosos e verdejantes, que nós sonhávamos…
Havia fartura e teimosia, como Outrora;
Porém, o mundo era mais justo e tínhamos teu sorriso

Para alegrar o tempo de sol-posto, no horizonte…
Meu filho, enxota, põe para fora os olhares duros,
Há tantas terras para desbravarmos jungidos, juntos!…

Autor: Edigles Guedes.


Olhar



Restou-me o frígido olhar
De quem friamente me pisou.
Palor grelou na minha pele.
Pavor soçobra no meu sangue.

O sério reina no semblante
De quem redime o caminhar
Das Horas, dentro do espaço
Finito, assaz do diminuto

Segundo, sem torna-viagem.
Passagem? Só de ida sem volta.
Por quê? Ninguém compra o Passado,

Que alado, voa por montanhas
Do tempo Outrora, com seus cimos.
A cisma abrolha em quem cismou.

Autor: Edigles Guedes.


Coragem



Atino com Existência, que redime
A mágoa, no exclamante calabouço
Do peito, num aljube de bramidos…
O plácido Minuto, que me oprime

O cálido desejo de formosas
As mãos, em madrugada de aflição…
O nítido paquete me comprime
O tórax de Esperança, que fugaz

Navega pelas sete freguesias…
Retumba forte assaz Monotonias
Das Horas claudicantes em relógio,

Com ácidas manobras dos ponteiros…
Coragem de Pintinho em galinheiro,
Enquanto Malandrim anda à espreita…

Autor: Edigles Guedes.


Bola de Gude



Quantas vezes nos divertimos,
Nas manhãs de sol escaldante?
Quantas vezes nos distraímos
Com os dedos mui fervilhantes?

Porventura grilo dormita?
Há um cântico, serventia
Para todo nó, cobardia?
Ou apenas somos formigas

No afã das horas amigas?
Há um riso de ironia?
Um escárnio, na agonia?

Ah! conquista anda contrita,
Como bola, gude de grita!…
Desvario me abatia…

Autor: Edigles Guedes.


Encontro



Fazia mais de duas horas…
Estou aqui de mão suspensa…
Lamento gruda, boca brinca
Com língua brava, siso trinca

Os dentes férreos. Nisso, urge
A noite dentro; luz apaga,
Acende, poste zanga, xinga
Um pouco, fúria vem e vinga.

Desata nó, o peito chora.
E ela foge, cisma, pensa,
Se bem que dó de mim suporta.

Encontro houve não, mas surge
Herói, enredo, grande saga,
Enquanto fecho minha porta.

Autor: Edigles Guedes.


Ranço



Sem toscanejar,
Desfez enjoar
Das horas pungentes,
Sem que o cuidado

Arrote o preço
Por falho descanso.
Merece a folga?
Parece formiga,

Que gosta, amiga,
Das fainas
vigentes,
Sem que o agrado

Lhe mime. Começo,
De pronto, o ranço,
Que tanto empolga.

Autor: Edigles Guedes.


Casa



Refúgio seguro
Nas horas de risco.
Convém fortaleza.
Amém conjeturo.

E sou asterisco
De muita franqueza,
Em terra obscura.
O beiço se cura

De beijo primevo.
O plano relevo
De boa a cama

Contigo, a Dama
De olhos graciosos.
Viver de penosos


Autor: Edigles Guedes.


Mesa



Retângulo tenso, firmado no soalho.
Destranca o gáudio, brotado no borralho.
As palmas (que curvas!) me lançam um sorriso.
As pernas entortam, silentes. E reviso

O livro das horas, às quatro da matina.
Candeia luzente, conquanto a buzina
De carro troveja. O livro rumoreja
Agruras e lástimas; sono sacoleja

Vigília; os olhos por triz que desfalece.
A forma: estética gris empalidece.
A mesa me chama; a pálpebra estica.

E eu surpreendo-me:
Chega de peitica!
Amiga belisca; despeço-me da lida.
A mesa, porém, permanece
traduzida.

Autor: Edigles Guedes.


Mundo Ogro


Majestosa, subias as boas escadas
De Jacó… Jubilosa, as escaldadas
Anáguas, lindas, desciam, fás ao vento…
Fazia frio de feio… Tremulento,

Teci mãos em nutriz e bom quadril,
Envolto em seda púrpura com anil…
Os pasmos degraus, sós, qual boquiabertos,
Lançam olhares cínicos, incertos…

Não reparo no sevo falatório
Das portas… Dou atenção ao vil desvario
Das impiedosas Horas: são fugazes!…

Eu mapeei, mocorongo, o teu corpo,
Qual cartógrafo age em globo ogro…
Ah, Horas! são indomáveis ares ases…

7-2-2015.

Sol de Verão



Mádido Sol de verão que
Sonha e insufla a magra vela
Do velejar; não sei o quê!…
Será que dou a boa trela?…

Máximo Sol de verão que
Me desbarata aquelas tétricas
Horas de folga; para quê?…
Se são tais horas muito céticas?…

Cálido Sol de verão que
Já me apalerma os nervos brandos…
Grifos, charadas e porquês?…

Cândido Sol de verão que
Desfralda aves mui aos bandos;
E, deslumbrado fico: o quê!…

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...