De mãos Dadas

Edigles Guedes

Onde vamos de mãos dadas?…
Diga-me, Amor, em que estrela
Da formosa Via Láctea está ela
— A minha Senhora — acantoada?

Onde vamos de mãos dadas?…
Vamos com os pés álacres
Acudir os campos medíocres
Da Poesia acre e cogitabunda…

Onde vamos de mãos dadas?…
Contigo, Amor, eu irei e saciarei
O meu capricho sem trono de rei.

Contigo, indócil Amor, de mãos caladas,
Nós iremos desvendar o véu da carne,
O véu do cálamo em cantos de cisnes!…

27-2-2010.

Se for te Amar...

Edigles Guedes

Se for te amar, não sei. Tudo que sei é que por Amor,
Padeço. Eu que padeço; como se padecem as pradarias
Do torrão lisboeta, que deixaram de haver por agror,
O qual se fez tão e tanto no marítimo cais, em calmaria.

Se for te amar, não sei. Só sei que de amar perecerei,
Pois a Angústia vaga à sombra do meu peito infante,
A dizer-me noite e dia: — Poeta, que calmaria te propelirei?
A calmaria do Mar, lamentoso, que a qualquer instante

Torna-se revoltoso; ou a calmaria dos Vales e Montanhas,
Que é tão nefanda quanto a do Mar: que com gana se assanha.
Eu admoestei-a: Angústia, quista irmã dos meus Pesadelos,

Irmã da Insônia atroz que me assola a desoras… Eu soí andar
Com este Fado rude. Por isso, estou tão corcunda! É o Azar
Ou a Sorte das probabilidades aleatórias — o meu desmantelo!…

27-2-2010.

Madrepérola

Edigles Guedes

Madrepérola sem jaça: é assim que andas
Na praça do contentamento; e fazes de mim
Um homem sem tino, um homem saranda.
Vadio, de ideias concebidas no formoso jardim!…

Jardim em que tu pisaste os pés venerandos,
Herdeiros dos Argonautas, que transpuseram
Os árduos mares da Grécia à cata, em bando,
De venturas, as quais inauditos vates cantaram.

Madrepérola sem jaça, eu miro os teus pés
E o meu coração lamenta tanta dor e sofrer
Dentro, concluso, da caixa de catarro resvés!

Os teus pés amalgamam-me as entrelinhas
Do texto coeso (que sou) com o vindouro ser,
Com poços, inservíveis, de pesares em linhas!…

27-2-2010.

Tuas Mãos, ao Segurar o Cata-Vento

Edigles Guedes

Oferto-te o meu coração, dilacerado e puído;
Como as nuvens, pejadas, ofertam a chuva.
A chuva trina ao sol a pino (que se foi), diluído,
No algodão doce da praça, com sabor de uva.

Sabor de uva, sim, tu tinhas com teus brincos
A bailar na chuva, que se fora, de arrepios
De amores esconsos. Onde está o sonso trinco,
Para cerrar o meu coração em teu corrupio?

Cata-vento de papel usado por tuas mãos de criança,
Quando ainda não conhecíamos a vida e a desesperança.
Cata-vento de papel, ludologia que me estranha, hoje

(Já velho que estou), ao ver-te segurando-o em tuas mãos.
Quiçá tu não me esquecesses, quiçá o Amor não seja em vão…
Quiçá o Amor me deflagre um beijo, quiçá o Amor nos ajouje!…

27-2-2010.

Partiu

Edigles Guedes

As palavras são como cerejas,
Vêm umas atrás das outras;
Os pensares são caranguejas,
A ofertar partidas assaz pelintras!

Pois de tanto eu pensar, partiu
Aquela que meu coração domou!
Foi-se, assim, como se vão os rios.
Não me disse adeus, o táxi tomou

E partiu. Partiu como se parte
Uma maçã, em pedaços de escuro.
Partiu como a manhã se desveste

Do retumbar da noite que se sente.
Partiu tão escura e leda quanto o furo
Na fechadura, com olhos bendizentes.

27-2-2010.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...