Ano Novo



Espumante deita à mesa,
Que lamenta noite acesa.
Abridor de rolha, obeso,
Que afaga rosto teso.

Guardador de roupa branca
Que semeia louça franca,
Que prostrada, dorme sono
Em manhã vindoura. Abono

De futuro dúbio e próspero.
O capricho voa em boca.
O menino chora, áspero.

Papocar de fogos, ouço.
Querubim, quiçá, entoca
A melíflua flauta e poço.

Autor: Edigles Guedes.


Gato



Rumoreja os verbos cerúleos.
Trabucava amores hercúleos.
Ronronava soídos cosméticos.
Repenica espinhos domésticos.

Solevava a cauda patética,
Que passeia por pena morfética.
O estranho sorriso que morde.
O trejeito que pousa de lorde!

O sujeito dourado que corre.
O valente de botas, que torre!
Antevê a vergonha insossa.

Amarelo, vomita a bossa.
O faminto que caça os ratos.
Aboqueja doestos baratos.

Autor: Edigles Guedes.


Lagartixa



Uma pérola cor de ébano
Que dispara por muro plano.
E estuga o trote lasso.
Um cavalo soturno ou laço

De ausente quimera late.
Um besouro de vesgo abate.
Abocanha o bicho, bufa.
O balanço do quengo, ufa!

Serelepe, fremente, muge;
Mas ruído somente ruge.
Tosqueneja ao sol vulcânico.

Lacrimeja desdém e pânico.
Peregrino, também, por mundo:
Lagartixa, vintém jucundo.

Autor: Edigles Guedes.


Madrugada



Madrugada rubra, um grilo late na esquina da rua.
Madrugada fulva, um cão cricrila no cimo da palma.
A palavra curva explode, rompe
no fronte do lacre.
O mistério solta cordas pífias, que cantam a mágoa.

O mormaço outorga vez ao orvalho, que tange calvário.
O silêncio mora ao lado, logo empalha a garganta.
Alumiar de poste torto e grude, que lâmpada cede.
Obsequiar de beijo a esposa rude, que célica dorme.

Ataviar de mimo o crânio curto, que oculta no leito.
O cajueiro seca dores; duras castanhas serenam.
Ingazeiro geme flores; folhas farfalham amores.

O morcego mede passos; caibros que estalam, dolentes.
Caboré tresanda; sonha em sortes, que encantam a vida.
Iludida voz desata, troco de quem matinava.

Autor: Edigles Guedes.


Lâmpada



Lá, fineza incandesce, estripulia
Boa. Cândida, pede-me um sorriso.
Logo eu que padeço, esquisito.
É moçoila decente que alumia

Essas frinchas, carentes por narciso.
Flor que flora, pendente, por quesito
Si de si, instintiva, descoberta.
Fulge fronte dourada, boquiaberta.

Meu xodó tremeluze e prossigo.
Para vante fascina, que beleza!
Sou amante das luzes, que castigo!

Fera brava, demais, em bojudo
Beiço, beija-me. Vítrea robusteza
Cala peito leviano e abelhudo!

Autor: Edigles Guedes.


Vênia



Quem me dera suportar a cruz penosa!
Sou um mero pecador mortal, ingrato.
Não consigo sustentar veraz pecado
Meu, nos ombros. Tolerar voraz, pacato,

Sonho? Nunca! Carecer de voz, lorota,
Língua porca. Padecer de tanto sono.
Verme, sórdido. Capaz de pranto torto.
Biltre, mórbido. Engendrar de vil outono.

Judas, púnico. Moedas são legados.
Pedro, pérfido. O galo é fraterno.
Joane, tépido. A bravura sua é que meço.

Vivo lúgubre? Viver de soez e morto.
Fundo poço de delito, Pai eterno,
Muita vênia que suplico; aos pés, te peço.

Autor: Edigles Guedes.


Natal



O pinheiro nobre mergulha os galhos
Por quadrada sala. Os presentes inundam
O assoalho limpo. Esmero caseiro
De saudosa mãe, que curava do ninho.

A redonda mesa suspira as mágoas
E rebuça miúdos debaixo das pernas.
As panelas, pratos, talheres rutilam
Os sorrisos brandos. Que largo apetite!

A comida farta, sobeja barriga.
A estrela luze no cume da árvore
E renova riso da rena elétrica.

No presépio dorme Jesus, o menino.
O silêncio reina. Piscasse os olhos,
Que veria? Néscio consumo dos homens!

Autor: Edigles Guedes.


Vencido



Porventura o soído de peito meu me entontece?
Por que a moça falsa me dera seu ferimento?
Se proscrito vago por ruelas, sem pagamento
Por serviços magros; divago, sem o se apresse.

Porventura o doído de jeito meu me arrefece?
Por que a moça sonsa me dera seu arrebique?
Diadema canta mistério seu e chilique.
Um lamento trova; alvoroço seu concedesse.

Que calor troveja em meu talvez peregrino!
Que clangor suspeita por seu algoz desatino!
Uma escada eleita capricha em pétreo castigo.

Os flagrados, mão na botija, pai com desgosto.
Os vizinhos falam à boca torta, opostos.
O vencido vinga, ao vencer por bônus amigo.

Autor: Edigles Guedes.



Fugitiva



Fugitiva dos braços meus, por que te calas?
Se conheces que não consinto dissabores?
Se atinas que não permito os horrores
De inhenho, que inda velho de bengala?

O cerúleo espaço atesta-me a surdez
Aos pedidos patifes, muito suplicantes.
Os ouvidos, fizeste-os moucos, delirantes.
O prezar por astuta e árdua sisudez!

Fugitiva dos laços meus, por que te escondes?
Me concebe tirano e túrpido. Abono
De amor desmereço? Estúpido carbono

De provenho. Perdi o bonde e visconde!
Mas jamais esqueci de tórridos conselhos,
Que me deste. Caçamos lúbricos artelhos!

Autor: Edigles Guedes.


Estima



Sojigado ao torso teu, um lago de amores.
Submergido ao peito teu, um pranto de dores.
O sustém dos lábios teus, contém pormenores.
O também de beijos teus, mantém dissabores.

A morgada palra tua, a rima de cismas.
A dengosa palma tua, os ricos odores.
Buliçosa mão debruada em tarde de flores.
Devastadas rosas floram, âmago abisma.

A loquela: valsa tua, opimos favores.
Compungido ao braço teu, oprimo fulgores.
Estorvado laço teu, exprimo toleima.

Enjeitar cantor que vem falar de jiboia.
Alumiar valor de quem calar a tramoia!
Esbulhar calor de quem te quer e estima!

Autor: Edigles Guedes.

Jaez



Calma tinha, gentil, que me feriste.
Não que sabes o ruir de coração.
Sigo absorto, pensares que se vão,
Tão vexado estou. Persuadiste

Minha Sorte a flanar despercebida.
Sou fronteira a findar, desenxabida.
Triste Sina, formosa, detentora
Meus de ais, que ulceram os ouvidos.

Perto, colho a chaga por partido.
Dói no busto a trama tentadora.
Quem de mim me flagela, sonhadora?

Fora ti, o ninguém me enfastia.
Peço pouco; reforce a garantia;
Meu jaez, de freguês metralhadora!

Autor: Edigles Guedes.


Travesseiro



Travesseiro, amigo benigno das horas,
Que detém claudicantes ensejos na porta,
Que nos leva ao paraíso dos seixos ignotos,
Que nos move fagueiros ao mundo medonho.

Pesadelos que deitam burguês calafrio.
O martelo que põe-me bonés e delírio.
A tenaz que comprime fingido escrúpulo.
O fajardo suprime fastioso percurso.

Me amofina por noite afora, adentro.
Descortina pedrês lobisomem, vampiro;
Situações de piloura, o fado incerto.

Consciência tolero de pulcros detritos,
Que me banha em banho de gris madrugada,
Que me sonha em sonho de noivo e grinalda.

Autor: Edigles Guedes.


Carrapateiro



Papa-bicheira, dentre o bico e os olhos
Forte laranja, sus! corisca. Os piolhos,
Mil carrapatos — caça a cota, incansável.
Papa lagarta, rói carniça intragável.

Sóbrio cupim destrói madeira já minguada.
Ave, pinhé devora o biltre à crua míngua!
Peixe trivial demonstra boca mui salgada;
Cava sabor na torta e triste sua língua.

Bicho rapina peixe, cumpre o desatino.
Gula que come fome, dor que nos destina.
Sanha assassina, torce os nós que me ensina.

Caro pinhém, também, decoro meu destino.
Pinto azul-celeste Céu e Amor por tino.
Tinjo de verde as mágoas, sortes más, cretino!

Autor: Edigles Guedes.


Carcará



Cor carijó, o peito enfunado no arame.
Cerca farpada arrepia, os de olhos ditames
Fitos. À caça vítima segue, silente.
Come lagartos, cobras, sapinhos, oxente!

Vil solidéu no quengo, à espreita, solerte.
Face vermelha, rútila; seta adverte.
Bico a cutelo ofende, molesta o cujo;
Lâmina adunca abala civil caramujo!

Dobra pescoço, em dorso mantém sua cabeça,
Solta cantares doídos, sustém um “cará”.
Tine cansável e moído, um som findará.

Deus que te cuide, pés com moleira que meça!
Livre o Amor, também, me persegue, oportuno,
Para gastar sossego, a rudo gatuno.

Autor: Edigles Guedes.


Socó



Socó que singra os altares dos ares cientes,
De inverno pingue, manhoso. Pousar de lentes
Nas pernas calvas, sonhoso. Perdura asfalto
Na voz estridente de néscio. Esboçar prudências.

Esturro, onça-pintada nas horas machas.
Mugir em bravo do boi, que lamenta as taxas
De mil saúdes perdidas nas sendas. Saltos
De dados múltiplos. Lei d
e maltês vivência.

A
flecha e bico que peixe dardeja e sente
O fim da vítima frita: perplexo o ser!
Presente físico; mágoas, acá, ausentes.

Amor que cinge a toleima dos braços meus.
Sucede nunca a consorte do bem-querer;
Mas é conforme a bendita cessão de Deus.

Autor: Edigles Guedes.


Beijos



Quisera Deus! que sentisse vossos beijos,
Assim se sente o parir de mil desejos,
Que come siso de homem tão devoto
Aos vossos dogmas de fêmea mais garrida.

Quisera Deus! que cedesse vossas brigas,
Assim se cante o fluir de cem canhotos…
Que fome!… Piso o sujeito tão carente
De vossos crassos carinhos mais ausente.

Quisera Deus! que tecesse vossas teias…
Mulher pacata, mas sangue ferve em veias…
Que sede!… Sugo o leite; gosto muito

De mãos cruas, são-me benesses gratas, fruito.
Quisera Deus! que sondasse vo
ssos braços
Em longos beijos que dá-me vossos laços.

Autor: Edigles Guedes.


Perguntas



Galochas são as bolachas dos sapatos?
Bolachas são as galochas dos biscoitos?
Torradas são as garrafas dos temores?
Garrafas são as torradas dos gerontes?

Sapatos surram o soalho de sentidos?
Biscoitos buscam o barco de balidos?
Temores tremem à testa de transidos?
Gerontes gemem à gema de gestantes?

Sentidos sofrem às tontas tartarugas?
Balidos balem aos gestos de gasturas?
Transidos tragam os baços de bigodes?

Gestantes geram sentires de demente?
Perguntas são os pilares da sapiência,
Que sonda muitos mistérios da paciência.

Autor: Edigles Guedes.


Requeijão



Está-se deitado no berço da mesa,
E dorme, tranquilo. Canção de ninar
Embala o sono. Canção de tacanha…
Veraz geladeira, que velha e burra!

Avenha com facas, talheres condoídos.
Aqueles que atinam da morte em sua vida.
Feridos que gravam a gula do homem,
Sujeito de escassas palavras na boca.

Carneiro, que mudo, se abate, amolda.
A rodo, desdita avizinha, a sonsa.
Deslembra recado. Saber do botim,

Chutar o traseiro pesado da vítima.
Comê-lo de só uma dentada dileta:
Niquice de quem se entranha na liça.

Autor: Edigles Guedes.


Lente


Roçaguei-lhe os cabelos com os dedos sonsos;
Mergulhei-lhe os anelos com os ledos monstros;
Mastiguei-lhe os desejos com os lerdos lábios;
Mordisquei-lhe os gracejos com os tredos brincos.

Desgastei-lhe os dedos com os olhos bastos;
Consignei-lhe os monstros com suspiros vastos;
Consolei-lhe os lábios com desastres gastos;
Alentei-lhe os brincos com infartos fastos.

Tudo que mentir, os olhos de idade roída.
Tudo que fingir, suspiros de causa saída.
Tudo que sentir, desastres de alma vívida.

Tudo que me dói, infartos da moira lívida.
Antes de findar a liça daquela vida,
Tudo que sofrer! um lente atencioso à lida…

Autor: Edigles Guedes.


Escorpião




Bicho intrêmulo, capaz de comer um vivo,
Só piscar a sobrancelha miúda e larga.
Bicho tímido, capaz de correr à carga.
Mula ríspida, ferrão no final servido.

Quando vergastado, nunca foge à luta.
Arma carapaça, pinças ergue; o divo
Fino do infinito, soez veneno coagido.
Face de gentis palavras, trégua poluta.

Jegue cândido, capaz de ferrar um tiro!
Só querer; o sobranceiro avança e morde!
Burro sórdido, capaz de matar e estiro!

Quando fascinado, nunca solta; o lorde
Prende feminina, garras tortas, à tarde.
Fúria encalhada; não perante alarde!

Autor: Edigles Guedes.



Horizonte



O folgar os ósculos em óculos pandos.
Traquejar a caça, o caçador, em zarpando
Triste nau do ancoradouro da paz banal.
Plange cru do sumidouro da luz, fanal.

O calcar crepúsculos em opúsculos iambos.
Marejar à tarde, o pescador ditirambos.
Rede e sal do sorvedouro da cruz fatal.
Flui anzol no sangradouro do sus letal.

Barco voga por ôndulas tão claudicantes!
Vai canoa de tísicas mãos tonitruantes!
Medra os olhos previstos. Cortês horizonte,

Que esmaece as cores ternárias do fronte;
Que entontece as flores cenário de mares;
Que enobrece as ostras canários em pares.

Autor: Edigles Guedes.


Fidalgo



De chamar, cansou-se o nobre coração;
A clamar, ardeu-se a vulgar benevolência;
Por bradar, goelou-se a banal concupiscência;
Por berrar, gelou-se a traquina aspiração.

O fidalgo coração julgou-me insano;
A vergar benevolência, viu-me em pranto;
A zangar concupiscência, foi-se em espanto.
A travessa aspiração rasgou-me o engano.

Que enxugue secas as lágrimas, suspiro!
Que machuque moças as nádegas, aspiro!
Que transite rudos os náufragos, vampiro!

Porque lágrimas restrujam, gôndolas voam?
Porque nádegas retumbem, rótulas troam?
Porque náufragos ribombem, léxicos soam?

Autor: Edigles Guedes.


Peitica



Que peitica tremenda? Por que não me acode?
Que chatice me engendra? Por que não sacode
As venustas cadeiras em trotis pagodes?
Que me venhas, janota, em maciez de bodes!

A peitica esconde! Serenai, sonsinha!
A chatice emperra! Abonançai, sozinha!
As cadeiras ostenta! Mitigai piti!
A largueza de peito um, convém a ti!

Agoureira que crava tórax no cruzeiro.
Escusai a insolência, tolo marombeiro!
Escutai petição solene, marinheiro!

A peitica desata canto no ingazeiro.
A tristeza desaba peito seresteiro.
A saudade rebenta leite de umbuzeiro.

Autor: Edigles Guedes.


Bactérias



As batatas fritas de tuas pernas,
Longilíneas, deitam-me afrontas ternas!
O que digo faz o sentido ou senso
A pular, de galho em galho, feito

O macaco sabe que seu defeito:
Os cambitos — laços demais extensos?
Escapole riso, vivaz pilhéria.
Recriminas; siso, exiges; léria.

Esticar o beiço por bruta birra.
Inflamar o peito de pulcra esfirra.
Desatar o bico de bicho em férias.

O que digo verte linguagem ácida.
O galgar de gata dengosa, plácida.
Destronar as tontas, gentis bactérias!

Autor: Edigles Guedes.


Tonteira



O poema se contorce em linhas agudas.
O doente se comove; espinhas e bulas.
O peixe no aquário: diz que das gulas?
As linhas no papel se vão vagabundas;

Que tecem umas letras gris, navegando
Por entre umas tardes; frios aos montes!
A toalha de penedos foge, defronte
Ao grande condolente, mar tateando.

Um pé de tamarindo pinga as mágoas
De lépidas torneiras. Baldes de águas
Que caem da veraz faceta, chaleira.

Vagir que despedaça berço e menino!
Rebento com perder e dor, desatino!
Quiçá um que destroça nuvens, tonteira!

Autor: Edigles Guedes.


Potó



Potó-pimenta estica as pernas; acrobáticas,
As linhas puxam; ferem agulhas; em ginásticas
Longínquas, saltam tortas; ganas de Arlequim.
Avexa-se nas calças de Polichinelo!

Bichinho papa pó e pútrida pimenta;
Que cospe fogo-fátuo e brusca malagueta;
Que chispa longa estrada e curva no jardim.
Engancha-se nas mangas de um ritornelo!

Fugaz moleque trepa dobras e pescoço:
Horror da carne viva! Corda suspendida…
O pêndulo veleja que no alvoroço!

Aranha tece, volve dráculas de anelos
Por pele grossa ou lisa: sádica bandida!
O sândalo peleja que a contrapelo…

Autor: Edigles Guedes.


Gozo



Ser amado por quem nos ama
É a Dádiva, sim, na cama.
Quando, pálida, Dama calma
Uiva, rosna — delírio em alma!

Amo, macho escravo… Dedo
Méleo e móvel, que prende o medo…
Dentes doem; arregaçam, tredos…
Dentes moem; estragam, ledos…

Pés fenecem, abrolham — lírios
Cantam, brutos, ceitis delírios.
Mãos apalpam, procuram as mãos

Outras, rogam por beijos sãos.
Sou feliz no sentir, Pinóquio.
Gozo; e meço gentil delíquio.

Autor: Edigles Guedes.


Grades de Ti



Debaixo do pé de seriguela
Estavas… Corri para os braços
Da amada… Jungi lábios em laços…
Mudei um humor frustro em estrela.

Contudo, pareces amarela.
Sortuda, estás desanimada.
Que houve, Senhora, magoada?
Que bicho te morde, Tagarela?

— A Sina mudou. Duro fadário
A mim consumiu: fruto e desgosto!
Na tarde do mês belo de agosto,

Partiste; deixaste-me cnidário.
Navego em sol-posto; revivo
As grades de ti, que me cativo!

Autor: Edigles Guedes.


Lobo na Estepe



Amo aqueles olhos de cetim,
Já concebem lúcido e ledo…
Logo, surge Sol da manhã, cedo.
Há silêncio ganso no jardim.

Voz de magro e mogno tricoline,
Faz-me bem à beça! Picolé,
Chupo e gosto nesse rodapé.
Trégua, lucro; nunca me amofine!

É manhã, o pássaro cantante
Carpe seda fúlgida no crepe!
Tua mão que voa tolerante…

Voo a mil, por lânguido chuveiro.
Deito, como lobo na estepe,
Vejo não os dias no lixeiro!

Autor: Edigles Guedes.


Tranças



Acode-me tuas tranças formosas
Do chão desengano. Lanças ditosas
Dardejam os olhos — setas felizes
Que voam certeiras —, brutos deslizes!

Sacode-me tua dança fecunda.
Quadril que balança minha cacunda.
Sorris; me escondo, meu regozijo;
Pavor desabrocha, ponho-me rijo.

Perder que desata, fico-me sério.
Serena, debocha, agre saltério.
Olvido a birra, rasgo sorriso.

Permuta-me olhar de cala improviso.
Mergulho nas tuas tranças de siso.
Afogo-me, lábios brandos de riso!

Autor: Edigles Guedes.

Senhora



És a Senhora alquimias que ser?
És a Ilusão do bom modo sobejo?
Doce carícia grita no seu beijo.
Vivo, em curto, vago padecer,

Desde que foste: mar de xingamentos!
Venhas que forte e bela em vestidos,
Chitas de mui carmim, por mim curtidos!
Ardes-me dentro, lar de sentimentos…

Corpo danoso, deixa-me olhos pasmos!
Curvas palpáveis, põe-me em orgasmos!
Múltiplos beijos, leva-me às alturas!

Sorvo louváveis ares de perfumes,
Vindos de tua pele: faca e gumes!
Como você, subtil Dama, me atura?

Autor: Edigles Guedes.


Escada



Detém-te, agora, na tesa escada;
Antes que teu pé tropece e caías.
Caíres, serei a tua meiga almofada,
Para que não te machuque as saias.

Se te machucas, capaz de perder
Cabeça, sou, sem piscar os meus olhos.
Que pé louvável! capaz de ofender
Princesa fácil, travando aos molhos

Um nó em garganta franzina e nutrida!
Eu é que perco as palavras mimadas,
Só por pensar em tuas magras feridas!

O que seria de mim, se tu choras?
Fico a colher essas rosas sagradas…
Queixas escoam dos lábios teus, ora!

Autor: Edigles Guedes.



Deboche



Peço as mercês à tua beldade;
Rogo, Sestro meu, por tua lealdade.
Onde… já que vou parir os encantos?
Onde… já que vou partir os quebrantos?

Fraco sou e sal, por tua bondade;
Sonho, brado meu, por tua piedade.
Quê? Se toma soez lamento por canto…
Quê? Se toma vil tormento, espanto…

Terço por mulher em tua lhaneza;
Galgo monte frio, por tua torpeza.
Faz cisão por mal pisar no fantoche!

Urge as maçãs em tua fineza;
Clamo, preço meu, por tua largueza.
Faz questão de mal poupar o deboche!

Autor: Edigles Guedes.


Gastei-me


Gastei-me, a sério, ao ver-te sobranceira;
Deitada debaixo de prófugo jambeiro.
Bom-dia que vai com as pressas ao barbeiro;
Não espia de lado pra flor, sobremaneira.

Gastei-me, chistoso, ao ver-te, de maneira
Que esses impávidos olhos, os solteiros,
Deitaram atenções demais, tão mexeriqueiros!
Pejei; sabia não que nublado Céu, faceira,

Capaz era o seu despejar de Anjos alados!
Havia em mim Sonho perdido por brunido
Amor, tanto raro, quão casto, ora sofrido!

Qual Anjo que agita duas asas, lado a lado,
E voa ao serviço frenético de Deus…
Ligeiro, gastei-me nos olhos, ó olhos teus!…

Autor: Edigles Guedes.


Flores Singelas



As singelas flores, ao pé da cova,
Dormem já insones, pois jazem mortas;
São de meu amor por ti a pura prova,
Eu que vivo não, mas a Hora torta…

Esta, de asas guias tem, ainda chova
Canivete, nada carece, absorta,
A viver no mundo da Lua… Ah! Alcova
Do meu triste ser, ardil sem a porta!…

Que não sei se minto e o pranto cai…
Que não sei se sinto e o pingo sai…
Salta vale e campo, meu torso grito!…

O porém que dói, sufocado ai!
Que palpita duro, enforcado, atrai
A espada fria da alma ou rito.

Autor: Edigles Guedes.


Se Deus



Se Deus quiser…
Um beijo deito
Na face lívida
De Dama vívida.

Se Deus disser…
Um peito feito
De linda pérola.
A mil, carola

Enruga alma…
Amante quedo
Por ti. O fedo

Do sol espalma
As luzes. Cedo;
Dilúvio tredo.

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...