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Febre — Três



Nesse torto instante, tenho febre.
Não sei se existo; para que existo?
Se a Existência me contamina
Com febre hidrófoba, ciciando

De febre curva na minha vida…
Esta febre que, com depressivo
Olhar, me bota em canto de quarto,
No aguardo possível de um surto

De cólera ou será de loucura?
Já não sei o que sinto, sentido;
Já não sei o que penso, pensado;

Já não sei se minto, quando calo
A voz piedosa do coração.
Ah! o elixir que me deixa são!…

Autor: Edigles Guedes.


Um Grilo Falante, de Espora



A luz descolore
Fulgor de aurora?
Um dedo de prosa
E cedo Manhã,

Que sabe a rosa?
Pranteia, agora,
O céu de maçã!

A nós, evapore
Ledice da noite!
Desate açoite
Na voz e vigore!

Um Grilo Falante
Verseja diante
De mim, de espora

Autor: Edigles Guedes.


Abelha, Estrela, Cão e Eu



Zunzum de abelha-operária,
Na hora franzina, matinal.
A cera, que fazem, por enquanto,
Mercê de cimento e tijolo;

Por isso, a casa sobreleva.
De tanto arisca, edifica
Colmeia de nil hexagonal?

E eu — que estrela donatária! —
Navego os céus por desencanto
E minha a voz lhe acrisolo
No peito infante, abissal.

Sacudo coleira, mas escreva:
Que cão, por doméstico, salpica
A língua em dono abismal.

Autor: Edigles Guedes.


Cemitério



Longe, muito longe daqui,
Houve fato fútil, de rima
Leve, solta; doce estima
Brota, como mal de zumbi.

Noite faz terror de zabumba.
Passo moitas mil; cemitério
Late muitas almas: mistério
Dobre; fora, ventos; a tumba

(Cão que dorme, lago de sonho;
Mocho coça perna pirata;
Gato vivo anda risonho)

Abre, sim, desperta coveiro,
Ouve voz de sonsa barata.
— Mãos estica, pai de chiqueiro!

Autor: Edigles Guedes.


Voz Desafino



Careço de ti,
Que não me acata
Desejo latente
Por Dama troveira.

Careço de Pi,
Coelho silente,
Em braços de gata.
Amor que me cheira!

Pareço um chim
De fronte esguia
E pé de enguia?

Caroço de mim,
De tão pequenino,
A voz desafino!

Autor: Edigles Guedes.


Balanço



A mão no balanço
Me causa abalo.
Vestido flutua.
No peito tatua

A voz caprichosa…
A mão que repousa
Em rude o homem…
A gata ditosa

Me causa estralo.
Cruel, dolorosa,
Que desce da nuvem.

E fingo que vejo;
E tudo desejo;
E nada alcanço.

Autor: Edigles Guedes.


Beijo?



Ao pé da porta,
Avisto torta
A moça. Minto;
E nada vejo!

Em pé, escuto
A voz de meiga
A Dama. Leiga
Me chama. Bruto,

Atendo. Passo
Portal. O braço
Me treme. Sinto

Amor no bucho.
Será o luxo,
O árduo beijo?

Autor: Edigles Guedes.


Figura



De mim, desperdícios.
Os olhos, bulícios.
A cócega torta
Na mão longilínea.

Olhares de morta.
Detém retilínea
Figura no beco
Da boca sedenta.

Sedenta por beijo,
Carícia e eco
Da voz. Acalenta

O ser por um queixo
Caído e jeito
De bravo o peito.

Autor: Edigles Guedes.


Grito



Impulso de bom
Falar, que se freia.
Amante de tom
Acerbo, que feia

A voz arrebenta
Em teus desgarrados
Ouvidos. Pimenta…
Consumo arados,

Labuto a terra,
Ofício na serra.
E tudo que faço;

O faço calado:
O grito do laço,
O riso cansado.

Autor: Edigles Guedes.


Olhos



Aqueles olhos grandes
Que cortam voz de súbito.
E eu que sou o súdito:
Vassalo teu. Me brande

Espada, quis graúda.
O peito teu que pulsa.
Bater o sus! Expulsa
Os lábios teus, miúda?

No sonho vi: cavalo,
Ginete, mão de ferro,
A terra fértil, valo,

Castelo forte, tarde…
Aqueles olhos… Berro.
A alma ferve, arde!…

Autor: Edigles Guedes.


Beijo



De quem comeu, a cara topázio,
Mas não gostou. O doce gatázio
De fora, pronto para degola.
Senhora minha, não me amola!

Estrada: ferro cicia na veia;
Concreto zune, voz titubeia;
Centelha fulge; freme candeia;
Martelo pune; prego incendeia.

Incauta, mão que pega a sombrinha;
A dita, ao vento baila, à tardinha.
A outra, cobre um riso, retido

No rosto rubro, fiel e franzido.
Desato mão que embioca vergonha.
Exponho: beijo vasto enfronha.

Autor: Edigles Guedes.

Voz



Simpático som
De tua a voz
Me deixa cabreiro.
Ninguém me escuta

No ermo sertão.
Aqui, o negror
Consome a alma.
Mimético tom

De rude atroz;
Capaz de, coveiro,
Me dar a cicuta

Por duro sermão.
Aqui, o ardor
Esgota a calma.

Autor: Edigles Guedes.


Flagelo sem Flauta

Casal abraçados. Um pé de árvore ao lado. Pássaros voando. E uma lua enorme, envolvendo o casal.



Quando vieste, eu disse assim: — Jamais
Escrevo outro soneto ou melodia!…
No entanto, ao fitar tão ingente cais
De doçura… Tal qual chuva serôdia,

Inunda o meu atroz ser sentimento.
Das entranhas no abismo, acolá, nasce
Esse flagelo sem flauta, tormento
Sem comento, apascenta-me que pasce.

Se vivo, eis que já não sei, ou morro;
Se respiro ou transpiro, acá; se corro
Ou fico. Sei lá… subo ou desço? Minto

A mim mesmo. Confesso, Amor, calo
No meu peito a linguagem ardente. Ralho,
Com as pernas bambas, caro Amor que sinto!…

3-1-2016. 

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...