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Febre — Três



Nesse torto instante, tenho febre.
Não sei se existo; para que existo?
Se a Existência me contamina
Com febre hidrófoba, ciciando

De febre curva na minha vida…
Esta febre que, com depressivo
Olhar, me bota em canto de quarto,
No aguardo possível de um surto

De cólera ou será de loucura?
Já não sei o que sinto, sentido;
Já não sei o que penso, pensado;

Já não sei se minto, quando calo
A voz piedosa do coração.
Ah! o elixir que me deixa são!…

Autor: Edigles Guedes.


Acerca de Girassóis



Os girassóis são satélites do
Sol;
Pois cada qual gira derredor do
Sol,
Por movimento contínuo do terreno
Coração — servo da sina tão serena.

Ah! eu, que não nasci girassol, engreno
A máquina silente, que me condena
A viver por esquinas e ruas sujas,
Nas sarjetas do Ser, nas valetas tortas

Do Nada; enquanto, claudicante, me fujas
D
as minhas mãos, que nem um rio de mortas
Nascentes! Tu, somente tu, vasto Amor!

És capaz de me pôr de espantos, quando,
Cá, assisto um girassol, em pleno calor
Do meio-dia,
ninar a terra, cantando.

Autor: Edigles Guedes.


Chorar a Rosa



Há de chorar a Rosa!
Que se perdeu no flanco,
Esquerdo e cru, da vida…

Há de chorar, bradai!
Por Rosa tão pequena…
Que mais valeu a pane
No coração amargo…

Há de chorar a Rosa!
Como a vã mazela,
Fixa em jardim de males…

Há de chorar, bradai!
Por Rosa tão serena…
Mudo, jamais profane
A cova; então, cativa


Autor: Edigles Guedes.


Diamante



O bem que me queres é de cristal:
Que tão delicado fica, que meigo
Se quebra; partido, risca sossego
Por prêmio de tarde arisca. Navego

No regaço de mulher fascinante.
No terraço de felina e bacante
Me encaixoto por inteiro, delírio;
Me sepulto de janeiro a janeiro.

Suspiro… Deleite foi de metal
Fundido no peito frívolo e negro
Diamante… No leito vago restou:

O lençol alvinitente; a ternura
De ferido coração; o rabisco
De canção desaprendida, calou.

Autor: Edigles Guedes.


Aqui



Estivesses aqui…
Universo seria
Um pontinho, dotado
De airosa prudência.

Estivesses aqui…
Coração pulsaria,
Retumbante, mimado
Ao sabor da cadência.

Estivesses aqui…
Em bebê tornaria,
Criatura de flor!

Estivesses aqui…
De feliz, pularia
Um qualquer por Amor!

Autor: Edigles Guedes.


Coração



Durante verão,
O canto de rio
De águas vibrantes
Me deixa tocado

Por árias profusas.
E há passarinhos
De penas vistosas.
Porém, coração

Detém-me. O cio
De cenhos gigantes
Me põe afetado.

As luzes difusas

E fazes biquinhos

Senhora, que prosas!

Autor: Edigles Guedes.


Dias que não é Brinquedo



Há dias que não é brinquedo;
Todos, sérios, fogem do enredo
Da hilariante vida;
o medo
De alguma calamidade,

Anunciada nos jornais
Matutinos, antes do meio-
Dia em ponto, sol a pino;
O medo que uma barragem

Qualquer estoure suas águas,
Cheia de lama tola e mágoas,
Cheia de vidas despojadas.

Há dias que não se profere,
Ao menos, Amor — m
urcho em terra
Rasa do coração humano!

Autor: Edigles Guedes.


Jaez



Calma tinha, gentil, que me feriste.
Não que sabes o ruir de coração.
Sigo absorto, pensares que se vão,
Tão vexado estou. Persuadiste

Minha Sorte a flanar despercebida.
Sou fronteira a findar, desenxabida.
Triste Sina, formosa, detentora
Meus de ais, que ulceram os ouvidos.

Perto, colho a chaga por partido.
Dói no busto a trama tentadora.
Quem de mim me flagela, sonhadora?

Fora ti, o ninguém me enfastia.
Peço pouco; reforce a garantia;
Meu jaez, de freguês metralhadora!

Autor: Edigles Guedes.


Fidalgo



De chamar, cansou-se o nobre coração;
A clamar, ardeu-se a vulgar benevolência;
Por bradar, goelou-se a banal concupiscência;
Por berrar, gelou-se a traquina aspiração.

O fidalgo coração julgou-me insano;
A vergar benevolência, viu-me em pranto;
A zangar concupiscência, foi-se em espanto.
A travessa aspiração rasgou-me o engano.

Que enxugue secas as lágrimas, suspiro!
Que machuque moças as nádegas, aspiro!
Que transite rudos os náufragos, vampiro!

Porque lágrimas restrujam, gôndolas voam?
Porque nádegas retumbem, rótulas troam?
Porque náufragos ribombem, léxicos soam?

Autor: Edigles Guedes.


Ave Alígera

Uma pessoa com cão. E mais três pessoas. Todas numa ponte. Ao fundo, um pássaro voando alto. É um pôr do sol. O quadro usa as cores: laranja vivo, vermelho suave e preto nítido.



Voou minh’alma contrita: ajo por ida
Sem volta. Queira Deus!… que na partida,
Encontres o que não pude te dar;
O afeto que convinha com enredar;

O carinho solícito de duas
Mãos sem mágoas de agruras, ou sem nódoas;
O beijo que singelo, sem aleivosias;
O anelo — tal relevo sem falésias.

Vai!… Esquece-me o vulgar verme daninho!…
Rasga-me como um mau papel almaço!…
Risca-me de tua agenda, o pulcro ninho!…

Ave alígera vai!… Voe pra laço
De à toa passarinheiro! Cá, definho,
Perdido em minério de selva e aço.

3-4-2015.


Coração Envilecido


Meu coração envileceu, sua voz
Melíflua. Sanha por vã dor atroz;
Por ti, Senhora, que me enlouquece!…
Aquela chama, que me ensandece,

É de Amor, cativo, escorçado
Na varanda do pulcro coração;
Porém, fora jamais realizado,
Pois eu tenência não tive e mãos

Para efetuar a ligação
Entre mim e ti. Como méleas pombas
Dos pombais, que lépidas se vão,

Arrulhando canções naquela tromba
De música ao vento, léu de mim…
Vida cônica, como um pinguim!…

Autor: Edigles Guedes.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...