Quando me Roubaste



Edigles Guedes

Quando me roubaste o Coração brando…
A sequidão devorou-me, portanto.
Sofri calafrios de prantos; enquanto,
Pela estrada afora e sozinho, eu ando…

Quando me roubaste a Razão túrbida…
O deserto fez flor no sentimento…
O que era belo se tornou lamento…
Descida sem encontro de subida…

Quando me roubaste os pios pensamentos
Secretos, piíssimos, dentro da caixa
Da minh’alma: eu sorri contentamentos!…

Quando me roubaste, insana mocinha,
O meu sorriso d’alma com sua baixa
Autoestima: eu voei que voei bem asinha!…

9-3-2012.

Prometeu Acorrentado



Edigles Guedes

O passado devorou-me o futuro…
Nenhuma Mágoa pousou em meu coração?…
Quiçá uma Mágoa bruta me embotasse
O paletó da garganta!… Monturo,

Talvez, de ideias e amores tão fugazes!…
Ideias que padecem por sua inanição!…
Amores que se vão sem pingos esses!…
Eis minh’alma devorada, e vorazes,

Por abutres ferozes… Oh! mimosa
Alma que fenece com o fogo brio
Dos homens!… Existências lamentosas,

Pois não são deuses – tão cru somente pó
Das cinzas!… Somos sombras de um desvario…
Fênix sem cauda e sem asas: um cepo!…

9-3-2012.

Pena Ancha


Edigles Guedes

Máquina do tempo parco…
O meu cérebro maquina
A mão sutil de vil barco,
Que trafegava na esquina

De algodão-doce com pouco
Sal no quotidiano louco…
Que mão lamenta esse fogo?…
Que desce aos prantos, aos rogos!…

Voo tal qual arco sem flecha…
A chave estúpida fecha
A porta tão lentamente…

Ando tão de mim descrente…
Que piso na bola murcha
E caio que nem a pena ancha!…

4-3-2012.

Sonho de Vinil



Edigles Guedes

Eis um sonho de vinil,
Tatuado no meu peito
De cavalo varonil…
Troto, troto, sem jeito

Por campos verdejantes…
Por vales tão contentes…
Navego (tal como antes)
Por entre cegos entes,

Que só vêm seus quereres…
Navego – barco que sou! –,
Singrando os caos cárceres

Das mil águas infindas…
Vã quimera que passou…
Que sonho acordado, ainda…

27-2-2012.

Larga Âncora



Edigles Guedes

Uma borboleta anil
Caiu, pois caiu pelo funil…
Mas não foi borboleta;
E, sim, uma corveta

Que naufragou no torto
Mar sem navios, sem porto…
Manhã de fevereiro,
Faz frio, tal qual chuveiro

Com água mui frígida…
Caminho… Viagem de ida
Sem volta: oh! reta, oh! curva…

Sem despedida turva…
Corveta larga âncora…
Feliz, coração chora!…

26-2-2012.

Dor-dragão


Edigles Guedes

A cadeira surda não sabe exprimir
A fragrância que se evola do átomo…
Amor, cujo Amor cuinca e me faz fremir!…
Eis que tremo! eis que frêmito! tal como

Verde vara ao sabor do vácuo vento…
Ah! se minha Dor transpassasse dores
Da parturiente ao dar à luz, num lento
Valsejar de sofrimento sem flores!…

Oh! Dor inaudita que retrocede
Para assomar mais forte: cão com sede
Do meu sangue equestre; cão co’ atroz fome

Da minha carne – esta mendaz síndrome
Da galopante invenção… Cruel pesadelo!…
Dor-dragão sem pílula ou perdido elo!…

26-2-2012.

Aquele Sorriso Manco



Edigles Guedes

Desabotoa aquele sorriso manco, quando
Chega da cidade industriosa e sem tamanho…
Sem alarde, sem um oi sequer – urso pando
Vivendo no zoológico: gaiola com banho –,

De mansinho para não magoar os ouvidos
Macios de meu amorzinho… que dorme às bandeiras
Desfraldadas. Ouço vaidade de pruridos:
Um salto alto após outro é desvestido; beiras

De precipícios são ditas ao lustre mudo;
Os calos latejam suas dores… Ela coça
Meu pescoço-telescópio com beijo ancudo.

A Lua (singela e bela) cabe em nosso quarto!…
Uma sinfonia de grilos corteja a moça
De vermelho; enquanto eu lagarto tal qual parto!…

25-2-2012.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...