A Donzela Arabela


Edigles Guedes

Viu-me pelas costas, evitou inevitável
Encontro das águas do rio senil, mar salso?…
Soa seu discurso (ou afeiçoamento) como falso
Filho pródigo deplorável, não afiançável?…

Viu-me pelas costas, e ladina que fugiu
Sem me dar satisfação de nossa Fortuna…
Sem me dar um pio de adeus… Um banho de sauna
Coube a mim; enquanto sua escuna, roaz, estrugiu!…

Viu-me pelas costas, não sorriu seu sorriso
De donzela Arabela em milhares de apuros,
Desejosa por Príncipe, guerreiro inviso!…

Mas meu navio deu à costa pela manhã clara;
E as andorinhas frágeis não voltam aos muros
Do castelo, antes fenecem – fauna tão rara!…

7-9-2011.

Dor Magoada e Descontente


Edigles Guedes

O beijo estala os lábios roxos de Amor louco!…
Qual chiclete, que gruda na tosca parede;
Qual rude homem, pendurado em lasciva rede;
Assim bate que bate meu coração mouco.

Ó bicho insensato, que certo me não escuta!…
Quantas vezes me eu calei para não desistir
Das plagas de Amor desvairado: curvo insistir
De corvo, que desdenha de sua Sorte e luta!…

Apraz-me tua mão sonâmbula em minha perna
Suplicante, queixosa pelo ósculo voador,
Lamuriosa por tua letra tão sempiterna…

Apraz-me o lusco-fusco da maçã do rosto,
Em que se perdeu o Amor, para encontrar a dor
Magoada e descontente, mas com tanto gosto!…

7-9-2011.

A dor que Amor Deveras Sente


Edigles Guedes

Deitei aquela palavra enigmática
No papel almograve, que nem seda.
Um sobgrave estourou flautas olvidas.
Uma dor fomenta e lamenta sua cor

Furibunda no meu peito ferrabrás.
Olho para os lados; perscruto a porta;
Espio da janela; espreito a casa
Vizinha e esmerilo a Ilíada e a Ática.

Procuro entre estrelas por Andrômeda
Bela; debalde, procuro fornidas
Palavras para explicar como faz flor

Na dor que Amor deveras sente. Zás-trás!
Quebrou-se o lápis; apagou-se a torta
Linha pelo mordaz rato sem asas!

6-9-2011.

Amar é...


Edigles Guedes

Amar é cansar-se da nau Solidão?
Depois de persingrar os vastos mares,
Marinheiro regressa diante olhares
Vagos, como os vagos azuis da Amplidão.

A viagem, no dorso do homem que se fez
Ao mar, é mera miragem: deserto –
Cujo oásis, tal qual selo perniaberto,
Chora à espera de chuva e sua esplendidez.

O Sol castigante; os pleniabundantes
Peixes, errantes heróis navegantes;
Moluscos com músculos guantes de aço.

Pois bem, Amar é viagem serelepe
Que fazemos qual Saci, púnico pé;
Porém regressemos lassos de passos…

6-9-2011.

Lençóis Fanhos


Edigles Guedes

Recorta-se na lagoa azul
A silhueta feminina
Da belíssima Senhora,
Que cativa adolescente

Coração, tal qual carona
Em automóvel estranho.
A sombra, à sombra, descalça
O corpo sutil, tênue, êxul.

Beijo de penicilina…
Braço anil: que atroz penhora
Levou consigo… Decente

Decola o canto sanfona…
Ao quebra-luz, lençóis fanhos
Falam de malas sem alças.

5-9-2011.

A Cadeira e a Terra do Nunca

Edigles Guedes

Sinuosa, com brandas curvas,
Ondulando braços, dorso
E sela - tomada a corso:
Capitão Gancho de turvas

Barbas e papagaio gaiato.
Eh! aquele assentar átono
Da fada Sininho, em sono
Gramatical, dieta de hiatos.

Wendy tem graça nas ancas...
Quando se assenta, o costume
Das mulheres vence o lume

Da Lua cheia de Amor e branca.
Oh! cadeira alada que voa
Para a Terra do Nunca à toa.

1-9-2011.

A Mesa



Edigles Guedes

É sólida de solidão
Descontente; sua aparente
Formosura é rio demente
Sem lágrimas de comilão.

Glutona por lápis, papéis,
Clipes, borrachas, copinhos
Descartáveis, mil carinhos
De carimbos, vários pincéis

Coloridos e tesouras.
Nas entrelinhas da folha,
A mesa devora rolhas.

Um balão infantil estoura
A bexiga azul ou anil:
Coitada da mesa flébil!

1-9-2011.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...