Desenlace Amoroso

Edigles Guedes

Tic-tac!… O relógio da sala de estar bate
Meia-noite em ponto. Exausto do dia findo, arrasto-me
Para a cama de casal espaçosa e larga,
Pois quero deleitar-me em teu corpo… Ah! boa atração

Fatal de dois corpos jungidos pelo enlace
De lençóis brancos — alvos como esse embate
Da neve com a lã de algodão… Defendo-me,
Ataco-te co' uma cautela assaz amarga —

Minhas pernas (bambas de Amor) fazem, de reação
Em ação, a festa de travesseiros. Ao alcance
De nossas mãos está o desenlace amoroso:

Sorrisos de coxas e ilhargas desusadas,
Peitos arfantes declamam estrofes suadas,
Braços galantes sussurram meu hino amavioso!…

O Bilhete:Léxicos de Flores

Edigles Guedes

O bilhete pousa nas mãos de um mensageiro;
Voa, célere, ao seu destino: o sutiã, calado,
Onde aguarda a privacidade da leitura
Demorada e lenta, qual tartaruga a vagar

Pela imensidão do vasto mar de sargaços…
Oh! bilhete, silente, leva (assaz ligeiro)
Consigo linhas finitas de Amor… Atados
Barbantes ou colas selam essa brandura —

Ternos sentimentos evocados devagar…
Eu ouço o palpitar de teu coração de aço
Por meio das palavras, que escrevo no bilhete…

Ó palpitar sereno! que me emenda a letra
De péssima ortografia; mas, de mãos obstetras,
Fazem léxicos de flores em ramalhetes…

1-11-2010.

Prófuga Pescadora

Edigles Guedes

Prófuga pescadora: porventura podes
Eclipsar-te? Em que lua ou estrela escondeste
O teu corpo de sereia alviceleste?…
Remendaste a rede que me enlaça ao bigode

Do Amor salgado ou salobro, ou com sabor de mar?
Se, como peixe fora d’água fria, padeço
Só de pensar em ti… Pulcra pescadora — lenço,
Que enxuga a lágrima pérola de tanto amar!…

Oh! querida, essa lua minguante ulula noite
A fora, dentro de mim; pois, navega-me
Comigo essa navalha de anzol, encravada

Na boca do estômago, tal qual um açoite
Em lombo de escravo por Amor… Ah! rasga-me
No meu âmago essa dor de isca atra e deslavada!…

1-11-2010.

Amor Buzugo

Aliás, acaece que Amor move moinhos…
Se não fosse assim, como explicaríamos
O azul movediço do mar — dínamo
De sentimentos com tais torvelinhos…

Acaece que Amor move moinhos sonsos…
Contanto que se não mova uma palha
Sequer, ao prender a inspiração tênue
De pernas tesouras e braços mansos…

Como pode o vulcão desaguar gralha
Magma no mar de volúpias; e, ainda, sim,
Renascer no gozo do agrado anequim?…

Éramos crianças: eu com meu bodoque;
Você com sua boneca de sabugo
De milho; então, acaeceu o Amor buzugo!…

31-10-2010.

Amor Move Moinhos

Edigles Guedes

O que eu sou?… Somente o bailarino molambo,
Que se curva sob os teus passos de pássaro
Penteado pela chuva lã da madrugada,
Quando te alças nessa leveza de tua graça…

Tão somente o ramo, que te serve de escambo
Ou moeda para o comércio rude e avaro
Em teu ninho de sossego e calma largada,
Quando repousas de voar, tal como fumaça!…

Somente esse peso maduro e barítono,
Que te agrilhoa à terra vasta dessa alpercata,
Que se gasta, quando andas em noite sem sono…

Então, o que eu sou?… Tão somente o vento remoinho,
Qual passa com alarde de ser que desata
O nó da gravata — água de Amor move moinhos!…

29-10-2010.

Albergadora Barca

Edigles Guedes

Uma barca afasta-se de velas pandas:
Vai galgando a linha do horizonte imberbe;
Vai largando as cordas, que a prende ao cais prenhe;
Vai deixando saudades com sua agra âncora!…

A solércia da barca é que atra desanda
Ao navegar os mares, tal como azerbes
Ao vento enfunado por bolhas champanhes…
Segue a barca pelo vasto oceano afora…

Uma barca — que arrefece o troar das ondas,
Que se esquece do dia findo em suas águas anchas,
Que alentece em pescar estrelas e conchas —

Sabe o quanto lhe custa, a arguta anaconda
Do mar, naufragar na sequiosa praia do Amor!…
Eis que a barca é albergadora desse alvor!…

28-10-2010.

Amor no Portão

Edigles Guedes

Oh! Psiquê, bela jovem, que foi traída
Pelas almas ínvidas de suas irmãs…
Que tentada pela curiosidade:
Matou um gato e esquartejou certo cão!…

Carregando infeliz candeeiro na mão,
Ao espiar a tez de seu amado, nômade
Pingo de azeito atrai sobre ele — ímã
Tal qual de polos contrários. Caída

Uma lágrima de desgosto por tão
Insigne Cupido; logo, censura:
— O Amor não sobrevive sem confiança!…

E eu, leitor de muitas desesperanças,
Fico a sonhar as mil e tantas agruras
Por quais passa a alma do Amor no portão!…

28-10-2010.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...