Gaivota sem Préstimo

Edigles Guedes

Gaivota sem asas, por que perdeste o abraço
Pneumático das horas imberbes?… Solertes
Mãos procuram-te por entre a selva de laços
E o meu coração empedernido — rocha inerte!…

Gaivota sem asas, sem abraço, para onde
Vais tão triste e solitária?… Se inda não sabes
Navegar o horizonte do amanhã sem frondes;
Se não sabes do perigo atroz, que se esconde;

Se não sabes da ave de rapina, que come
Vorazmente teus ovos inermes em ninho
Esconso; se não sabes o quê (em vão) consome

Teus pensamentos de incólume passarinho;
Se não sabes da bocarra de leão sem juba!…
Gaivota: que és uma sem préstimo jujuba!…

2-3-2011.

Tristes Tisnes

Edigles Guedes

Onde estão as prosas, que me enviaste?…
Em que mastro ou estrela longínqua
Evaporaste o meu sorriso
De Patinho Feio e seu qua-quá?…

Sim, perdi tuas cartas de valor
Transcendental!… Não li os bilhetes
De Amor, que pesaram com fervor
No meu vaso de ramalhetes!…

Eu sou um caco de amores, frente
À frente, que eu não vivi!… Silente,
Sigo por lago de tais cisnes

Negros e águas negras e turvas!…
Claramente, não sei que curva
Ou esquina, eu perdi tristes tisnes…

1-3-2011

Sentimento Íngreme

Edigles Guedes

Quem disse que Amor, por amar, aprende a calar
A dor insensata no peito amante e indolor?…
Quem disse que Amor, por calar-se, aprende a falar,
Tal qual bebê a engatinhar na idade dessa flor?…

Oh! flor, que se espreguiça, tão ancha na janela!…
Por que vieste tomar banho de sol no quarto
Estreito e apertado do meu contrito peito?…
Oh! flor, que se lamenta!… Que chaga amarela

Devorou o teu sorriso de donzela estrela?…
Sim, foi essa enfermidade febril e demente;
Foi esse cavalo indômito, arredio, tagarela;

Foi esse animal bípede, que rasteja seu clamor
Na garganta profunda de dor tão presente…
Sim, foi esse sentimento íngreme por nome Amor!…

5-2-2011

Âncora de dor

Edigles Guedes

Ataca e recua sua doce onda elétrica…
Percorre o meu corpo, como atlética pista…
Salta-me com suspiros de frenética
Bailarina, em seu balé sem cordas autistas…

Esgrime com minha sorte de funâmbulo…
Escarnece de minha dor sedentária,
Como tal Pitágoras sem reto triângulo…
Foge de minhas angústias funerárias…

— Quem és tu? Digas-me logo, Amor íngreme,
O que vieste fazer em meu íntimo com trauma?
— Eu sou um barco à deriva, sem rumo ou leme…

— Quem és tu, insano Amor? Quem ousaria brincar
De cego, mas enxergando no escuro d’alma?
— Eu sou âncora de dor em seu coração a fincar…

23-12-2010.

Desenlace Amoroso

Edigles Guedes

Tic-tac!… O relógio da sala de estar bate
Meia-noite em ponto. Exausto do dia findo, arrasto-me
Para a cama de casal espaçosa e larga,
Pois quero deleitar-me em teu corpo… Ah! boa atração

Fatal de dois corpos jungidos pelo enlace
De lençóis brancos — alvos como esse embate
Da neve com a lã de algodão… Defendo-me,
Ataco-te co' uma cautela assaz amarga —

Minhas pernas (bambas de Amor) fazem, de reação
Em ação, a festa de travesseiros. Ao alcance
De nossas mãos está o desenlace amoroso:

Sorrisos de coxas e ilhargas desusadas,
Peitos arfantes declamam estrofes suadas,
Braços galantes sussurram meu hino amavioso!…

O Bilhete:Léxicos de Flores

Edigles Guedes

O bilhete pousa nas mãos de um mensageiro;
Voa, célere, ao seu destino: o sutiã, calado,
Onde aguarda a privacidade da leitura
Demorada e lenta, qual tartaruga a vagar

Pela imensidão do vasto mar de sargaços…
Oh! bilhete, silente, leva (assaz ligeiro)
Consigo linhas finitas de Amor… Atados
Barbantes ou colas selam essa brandura —

Ternos sentimentos evocados devagar…
Eu ouço o palpitar de teu coração de aço
Por meio das palavras, que escrevo no bilhete…

Ó palpitar sereno! que me emenda a letra
De péssima ortografia; mas, de mãos obstetras,
Fazem léxicos de flores em ramalhetes…

1-11-2010.

Prófuga Pescadora

Edigles Guedes

Prófuga pescadora: porventura podes
Eclipsar-te? Em que lua ou estrela escondeste
O teu corpo de sereia alviceleste?…
Remendaste a rede que me enlaça ao bigode

Do Amor salgado ou salobro, ou com sabor de mar?
Se, como peixe fora d’água fria, padeço
Só de pensar em ti… Pulcra pescadora — lenço,
Que enxuga a lágrima pérola de tanto amar!…

Oh! querida, essa lua minguante ulula noite
A fora, dentro de mim; pois, navega-me
Comigo essa navalha de anzol, encravada

Na boca do estômago, tal qual um açoite
Em lombo de escravo por Amor… Ah! rasga-me
No meu âmago essa dor de isca atra e deslavada!…

1-11-2010.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...