Teu Retrato

Edigles Guedes

Teu retrato, tatuado no meu peito,
É sinal inequívoco de paixão
Surda, dentro da caixa de defeitos
Dos meus pensamentos em circunflexão…

Teu retrato (enlaçando-me a mim pelo
Peito) faz-me feliz no mudo aspecto
De teu beijo vagabundo. Eu que anelo
Por tua lua em loas lúbricas… Circunspecto,

Devoro o esmalte de tuas unhas — fera
A ferir-me de desejos, encantos
De porcelana chinesa. Pantera

De fêmea faceira, atada ao retrato
Da figura, sem sobressalto, de Amor
Fovente. Ó mulher, mercê de destemor!…

6-4-2010.

Língua Lamelífera

Edigles Guedes

Língua: lamento alífero de aluguel;
Alimento do lanoso e legível
Laurel de latim. Laúde sem limites,
Sem luvas de lavanda laurífera.

Lava-louça sem alarde, lealdado.
Leseirice — aluado lambrequinado!
Língua lúbrica com loucas lílotes;
A lheguelhé língua lamelífera.

Lavoura analítica prelibente,
Com loquaz sem lucro literalmente.
Lã de lambugem; lustro levirrostro.

Libélula libente: lastros lábios.
Língua em laço, lanifício luzidio;
Luar luxuriante de lamelirrostros…

6-4-2010.

Premência Parida

Edigles Guedes

Manhã de bule ao sol. Estou sentindo
O formigar dos mares de areia. Fecundo
A manhã com minha porosidade
De cansaço. Estou eunuco de tuas esgrimas

De pele, minha amada. A nau cegueira
Sucumbiu meu coração. Na algibeira
Dos meus pensamentos, há só ansiedade
Por tuas mãos em escorrego — lágrimas

De felicidades na epiderme
Dos meus sentimentos. A gata freme
Teus roufenhares de pernas lânguidas.

Na cama áspera, de espáduas desnudas,
Quadris sereiam tuas dádivas carnudas.
Mulher dardeja premência parida!…

6-4-2010.

Fezes Cópulas

Edigles Guedes

Eis que tudo são fezes: breves risos
Do humano transitório nesses guizos;
Guizos entre a ternura da loucura
(Que cerceia a lógica aristotélica)

E a razão cartesiana das emoções
(Jogo de suas marinheiras sensações).
Há nos guizos, que também são procura
E revanchismo de certa estética,

Maculada por íngreme sapato,
Fincado no chão (ácido firmamento),
Aqueles ares de negra pérola

Em desgosto de rosto desdobrado,
Na mansão de abril com mítico brado.
Guizos em risos de fezes cópulas!…

6-4-2010.

Paisagem com Frutas

Edigles Guedes

Maçã sem parafuso de talo;
Mamão com fuso horário no ralo
Da pia; uva: ave em decúbito dorsal;
Banana sem ultraje de gala;

Melão magoado em agrotóxico;
Abacaxi: pipi de penico;
Maracujá só em agosto com sal;
Ameixa com saudável procela;

Morango em sabor de flor de menta;
Caqui: engole pimenta garota;
Melancia: caroço em figurinha;

Laranja em colisão de topázio;
Limão de engarrafado olho lúzio;
Pera em peleja de carochinha!

6-4-2010.

Sem ti, Amor

Edigles Guedes

Sem ti, tão desprezado Amor,
A chuva cai aos miúdos. Mor
Flor que o mundo já viu, porém
Desmentiu sua existência: atra

Dor, que dói em meu peito. Siso
Em loucura: dado riso,
Que sorte e azar, sócios, contêm
Seios alísios alcoólatras!…

Sem ti, tão dromedário Amor,
O sol poreja o mesmo suor,
Agora a pouco. Devaneio

De meu desafortunado
Coração há muito fadado
Ao teu laço, que me esperneio!…

5-4-2010.

Galo Geocêntrico

Edigles Guedes

Galo guerreiro, gabarola, geme
Seu gemido galáctico, gruiforme;
Gado sem gorjeta, cego gráviton
Do grão-vizir; gole galactófago!…

À guisa de gato grunhindo gelo,
Galgando gaios gestos, gaiatos grânulos
De gaiola com legume — gaudioso glúon…
Gênio galante, gigante geófago.

Grão-turco grasna golfe gongórico;
Gongolo graúlho a golpear galênico
Golfo graúdo de golquíper oógamo!…

Gozoso gavião sem gasto, sem ganho.
Gota a gaguejar Golias de golfinho
No geocêntrico galo polígamo!…

4-3-2010.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...