Dor-dragão


Edigles Guedes

A cadeira surda não sabe exprimir
A fragrância que se evola do átomo…
Amor, cujo Amor cuinca e me faz fremir!…
Eis que tremo! eis que frêmito! tal como

Verde vara ao sabor do vácuo vento…
Ah! se minha Dor transpassasse dores
Da parturiente ao dar à luz, num lento
Valsejar de sofrimento sem flores!…

Oh! Dor inaudita que retrocede
Para assomar mais forte: cão com sede
Do meu sangue equestre; cão co’ atroz fome

Da minha carne – esta mendaz síndrome
Da galopante invenção… Cruel pesadelo!…
Dor-dragão sem pílula ou perdido elo!…

26-2-2012.

Aquele Sorriso Manco



Edigles Guedes

Desabotoa aquele sorriso manco, quando
Chega da cidade industriosa e sem tamanho…
Sem alarde, sem um oi sequer – urso pando
Vivendo no zoológico: gaiola com banho –,

De mansinho para não magoar os ouvidos
Macios de meu amorzinho… que dorme às bandeiras
Desfraldadas. Ouço vaidade de pruridos:
Um salto alto após outro é desvestido; beiras

De precipícios são ditas ao lustre mudo;
Os calos latejam suas dores… Ela coça
Meu pescoço-telescópio com beijo ancudo.

A Lua (singela e bela) cabe em nosso quarto!…
Uma sinfonia de grilos corteja a moça
De vermelho; enquanto eu lagarto tal qual parto!…

25-2-2012.

Naufrago-me na Superfície


Edigles Guedes

Páginas e mais páginas, folheadas
A inconsútil dedo, vagam por horas
A fio, na escrivaninha tão recheada
De livros imaginários… agora!…

Eis uma escrivaninha inexistente
Povoando a memória indelével de mim!…
Quem me dera! se eu pudesse navegar
Por entre as escumas, co’ odor de jasmim

A perseguir minhas ilusões!… Vagar,
Quiçá, por livros, que férteis são terras
De ideias mirabolantes, minha mente!…

E o vento sopra no meu rosto… Serra
Vai, monte vem… Montanha vai, planície
Vem… E eu naufrago-me na superfície…

23-2-2012.

Descrição Marítima



Edigles Guedes

Ribombou o velho mar!… Tuas tênues ondas
Tecem fios de fiandeira na escuma atroz!…
Voa ligeiro e mais que veloz o albatroz,
Qual o sorriso de tua La Gioconda!…

Ostras perambulam por entre rochas
Anônimas!… Sociedades de corais
Pintam de Picasso os azuis anormais!…
Anêmonas acendem tortas tochas

De neurotoxinas… Peixes naufragam
Nos frios d’águas… Caranguejos afagam
A textura insondável do rochedo!…

É noite e o mar baloiça as velas, toscas
E trêmulas, voejam… Foscas moscas
Brincam com a lixeira do penedo…

24-10-2011.

Tua mão



Edigles Guedes

Teu corpo de pérola em  meu corpo
Deitado e vagamundo… Psiu tosco
De mão que mão se namora… Rede
Sem peixe para pescar: só mágoa…

Teia de aranha que arranha essa pele
De tigre… Peçonha que me chora
De dor inconcebível… Insídia
De cavaleiro medieval… Mídia

Sem suporte técnico… Parede
Sem porta ou caminho nu sem saída…
Sentimentos que me enredam… Pepe

Legal (cabuloso) sem Babalu,
Seu escudeiro; assim, ando por tabu
E teimosia… Acho tua mão lânguida!…

21-10-2011.

Trote do Esse



Edigles Guedes

Uma flor fenece,
A fauna falece,
O mar emagrece,
A teia entardece!…

Uma cor carece
De celeste prece!…
O odor entontece,
A chama escurece!…

Uma Dor refece,
Fugaz, acontece
Nesse trote do esse.

O psiu e seu aderece:
Prazer enlouquece!…
Amor, sua benesse!…

6-2-2012.

Amor que vai ao mar



Edigles Guedes

Foge, hoje, o dia!… Foge a tarde!…
Sorrateira e vadia, foge…
Sem piu qualquer, sem alarde,
Aos remoinhos, cospe-cospe…

As folhas tênues… Frêmitos
De ferrolhos carcomidos 
Pela ferrugem e mitos,
Quais lobos e destemidos.

Uiva a Lua lânguida, lassa
Do entardecer entre ventos
Nórdicos!… Jabuti passa –

De olhos arrepiados: lentos
O bastante para clamar
Por mais Amor que vai ao mar!…

21-2-2012.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...