Araras Azuis



Edigles Guedes

Colore do azul de Picasso a tarde panda:
Ursinho de pelúcia voando, vicejando
O céu de esperanças… estrelas… Astro brando,
Governando o dia findo; e a Lua, solitária, anda

Com sua grinalda de sempre-noiva pálida,
À porta da desbocada noite cativa…
As araras, em bando, gralham: esquálidas
Vozes de agonias e aleluias, que banzativas

Festejam sua extinção em massa anônima. Cala
Em mim essa paisagem rural, de passagem
Pelo jardim zoológico. Engoli a vã fala

De quem quer salvar o planeta são e selvagem,
Como se eu fosse um exército de homem-bala;
Mas sou apenas da ave do mundo a sua penugem!…

13-9-2011.

Cupuaçu


Edigles Guedes

Dura e lisa casca de ovo sem rodeios – caubóis
Com o laço na mão e touro no pátio largo;
De cútis castanho-escura, parece amargo
Prado ou cerrado sem fazenda, ovelhas ou bois.

Contém ferros nas vedras veias amazônicas;
Fósforo sem palito para acender fogo
De proteínas carnívoras – chama que logo
Se apaga, sopro da vida com tectônicas

Placas a sacolejar o fraco da terra
Indômita, deixando o forte co’ anticorpos.
Ácido ascórbico que vagabundeia: que erra

Nos vasos sanguíneos em busca de teia mulher.
Sem estresse do tempo tênue; pericarpo,
Rosa ou flor tão avara, com meus lábios a colher.

12-9-2011.

Mangaba



Edigles Guedes

Ouvir delicioso é o teu nome em outros lábios
Carnais, sobretudo, nos de mulher trigueira;
Espectros áureos de Aurora boreal; cegueira
De passagem comprada para a luz dos sábios

Pergaminhos perdidos, vãos, na biblioteca
De Alexandria (rato que fui dos eruditos);
Tais pensares de pensamentos acrófitos,
Que se despregam da terra e sobem peteca

Ou águia para o ápice das montanhas latinas.
Teu nome suscita jóquei de pernas finas
A cavalgar o silêncio da respiração

Sustada, salto acrobático além-barreiras.
Teu nome provoca sensação crua de olheiras,
Depois de noite e êxtase de felina atração.

12-9-2011.

Avião por Dentro


Edigles Guedes

Pacato e pio amanhecer por
Entre mulheres, e facas,
E golfos, e essas matracas -
Curupacos, tacos de Amor!...

A sinuca piu de bico
Que sofre por impossível
Amar: tragédia risível
Dos pequenos paparicos

Do drama ora cotidiano.
Comédia de Aristófanes
É a nuvem de gás butano,

Que qualquer momento explode
Felicidade, nos panes
De avião sem baladas ou odes!...

12-9-2011.

Setembro



Edigles Guedes

Moço mês extravasa
Sua alegria: simplesmente
Nada que, às vezes, vaza
Num cantinho da mente.

Seguem-se os dias, quer felizes,
Quer efêmeros, como
Flores, flocos, deslizes,
Sem campo argirócomo.

Despejam-se desfiles
De solteiras árvores
Na aleia, na praça em bailes

De ginásticas floras.
Eis que se vão os amores,
Mas que se vão co’ esporas.

11-9-2011.

A Estrela



Edigles Guedes

Fulgura tal qual figura
De estanho ou de ouro lavrado;
Carrega parca tristura
Do planeta debelado

Por sua agrura jamais dita,
Ou revelada em pintura
Renascentista – dentista
Que perdeu a broca secura,

Que tais dentes extraviados
Insistem em consultórios
Por perambular, minguados.

Bronco animal que me morde
Da beleza seus calafrios.
Voam violinos sem acordes.

11-9-2011.

O Chuveiro



Edigles Guedes

Heráldico galo a jorrar concriz saliva
Líquida da volúpia e do sonho sono…
Cospe em mim a água potável, reino sem trono,
Donde vieste tão límpida, que me cativa…

Avaro, escorre translúcida que nem cristal
Por respingos de luzes multicoloridas…
Cavalos galopando sem rédeas ou bridas
São as águas macias e marciais de cartão-postal…

Evocam teus pontinhos singelos as tredas
Estrelas em rios constelações acráspedas:
Milímetro a milímetro, conquistas acres

Áreas do meu corpo, cansado das rotinas
Afadigosas, do ramerrão sem cortinas…
Pingos, chuva artificial, caem quedas álacres!…

11-9-2011.

Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...