Edigles Guedes
A sala respirava opressa, adormecida.
Clarice Lispector
A sala partida, sem meio
Ou começo e fim, desata
Melancolia – sua desdita!…
Eu perco-me em breve recreio
De alma e amargura… Que pejo
É esse na maçã que brota
Do rosto!… Oh! física e torta
Linha de harpa com arpejos
Anis!… Por que dilata nó
Em mim?… Se está nos cafundós
De mim essa voz, que rouca
E desafinada, evoca
A ti – cruento e desleal Amor!…
A vida é temor, só tremor?…
13-8-2011
Inspire-se. Surpreenda-se. Viva com leveza. Aproveite os sonetos. O romance. A desilusão. O amor. Leia e curta.
Feche a Porta
Edigles Guedes
Feche a porta, antes de sair!…
Que loas ventos a levem
Para longe!… Vai partir?…
Que parta como a nuvem,
Sem deixar a Saudade
Incrustada no peito
De quem fica… Maldade,
Sim, é largar o leito
Com cheiro de perfume
De noites tão cálidas!…
Hoje, sou um belo estrume,
Dejeto humano, prumo
Sem pedreiro, sem corda!…
Nau a navegar sem rumo!…
13-8-2011
Feche a porta, antes de sair!…
Que loas ventos a levem
Para longe!… Vai partir?…
Que parta como a nuvem,
Sem deixar a Saudade
Incrustada no peito
De quem fica… Maldade,
Sim, é largar o leito
Com cheiro de perfume
De noites tão cálidas!…
Hoje, sou um belo estrume,
Dejeto humano, prumo
Sem pedreiro, sem corda!…
Nau a navegar sem rumo!…
13-8-2011
Procura-se um Vaga-Lume
Edigles Guedes
Pergunta-se assim: como é o vaga-lume? Responde-se: ele desaparece.
Clarice Lispector
Noite adentro… Um Vaga-lume
Insone inventa de piscar
Suas lanternas de brasumes.
Enquanto, lá fora, há o riscar
De pó de gizes no quadro
Negro da paisagem fútil…
Sem régua, esquálido esquadro
Foge pela folha inútil!…
À mesa, a brisa sussurra
Nos meus ouvidos o clarão
Do dia, que raia numa surra
De ventos e tempestades…
Procuro o Vaga-lume. O boião
Da Lua diz-me que é debalde…
13-8-2011
Pergunta-se assim: como é o vaga-lume? Responde-se: ele desaparece.
Clarice Lispector
Noite adentro… Um Vaga-lume
Insone inventa de piscar
Suas lanternas de brasumes.
Enquanto, lá fora, há o riscar
De pó de gizes no quadro
Negro da paisagem fútil…
Sem régua, esquálido esquadro
Foge pela folha inútil!…
À mesa, a brisa sussurra
Nos meus ouvidos o clarão
Do dia, que raia numa surra
De ventos e tempestades…
Procuro o Vaga-lume. O boião
Da Lua diz-me que é debalde…
13-8-2011
Soneto do Desencanto
Edigles Guedes
O riso desfez-se em pranto!...
A mosca pariu lamento!....
A hora consumiu meu canto!...
O lápis sorriu, sarnento!...
A mesa chorou seu tanto!...
Lua sem sal, sem sentimento!...
A brisa sobraçou o quanto
Pôde o descontentamento!...
O frio franziu seus sobrolhos,
Que nem a alma com os joelhos
De Amor no peito calado!...
O rio mingou que nem mingau;
Que nem sopa dessa mágoa
De Amor tão desmesurado!...
12-8-2011
O riso desfez-se em pranto!...
A mosca pariu lamento!....
A hora consumiu meu canto!...
O lápis sorriu, sarnento!...
A mesa chorou seu tanto!...
Lua sem sal, sem sentimento!...
A brisa sobraçou o quanto
Pôde o descontentamento!...
O frio franziu seus sobrolhos,
Que nem a alma com os joelhos
De Amor no peito calado!...
O rio mingou que nem mingau;
Que nem sopa dessa mágoa
De Amor tão desmesurado!...
12-8-2011
Gaivota sem Préstimo
Edigles Guedes
Gaivota sem asas, por que perdeste o abraço
Pneumático das horas imberbes?… Solertes
Mãos procuram-te por entre a selva de laços
E o meu coração empedernido — rocha inerte!…
Gaivota sem asas, sem abraço, para onde
Vais tão triste e solitária?… Se inda não sabes
Navegar o horizonte do amanhã sem frondes;
Se não sabes do perigo atroz, que se esconde;
Se não sabes da ave de rapina, que come
Vorazmente teus ovos inermes em ninho
Esconso; se não sabes o quê (em vão) consome
Teus pensamentos de incólume passarinho;
Se não sabes da bocarra de leão sem juba!…
Gaivota: que és uma sem préstimo jujuba!…
2-3-2011.
Gaivota sem asas, por que perdeste o abraço
Pneumático das horas imberbes?… Solertes
Mãos procuram-te por entre a selva de laços
E o meu coração empedernido — rocha inerte!…
Gaivota sem asas, sem abraço, para onde
Vais tão triste e solitária?… Se inda não sabes
Navegar o horizonte do amanhã sem frondes;
Se não sabes do perigo atroz, que se esconde;
Se não sabes da ave de rapina, que come
Vorazmente teus ovos inermes em ninho
Esconso; se não sabes o quê (em vão) consome
Teus pensamentos de incólume passarinho;
Se não sabes da bocarra de leão sem juba!…
Gaivota: que és uma sem préstimo jujuba!…
2-3-2011.
Tristes Tisnes
Edigles Guedes
Onde estão as prosas, que me enviaste?…
Em que mastro ou estrela longínqua
Evaporaste o meu sorriso
De Patinho Feio e seu qua-quá?…
Sim, perdi tuas cartas de valor
Transcendental!… Não li os bilhetes
De Amor, que pesaram com fervor
No meu vaso de ramalhetes!…
Eu sou um caco de amores, frente
À frente, que eu não vivi!… Silente,
Sigo por lago de tais cisnes
Negros e águas negras e turvas!…
Claramente, não sei que curva
Ou esquina, eu perdi tristes tisnes…
1-3-2011
Onde estão as prosas, que me enviaste?…
Em que mastro ou estrela longínqua
Evaporaste o meu sorriso
De Patinho Feio e seu qua-quá?…
Sim, perdi tuas cartas de valor
Transcendental!… Não li os bilhetes
De Amor, que pesaram com fervor
No meu vaso de ramalhetes!…
Eu sou um caco de amores, frente
À frente, que eu não vivi!… Silente,
Sigo por lago de tais cisnes
Negros e águas negras e turvas!…
Claramente, não sei que curva
Ou esquina, eu perdi tristes tisnes…
1-3-2011
Sentimento Íngreme
Edigles Guedes
Quem disse que Amor, por amar, aprende a calar
A dor insensata no peito amante e indolor?…
Quem disse que Amor, por calar-se, aprende a falar,
Tal qual bebê a engatinhar na idade dessa flor?…
Oh! flor, que se espreguiça, tão ancha na janela!…
Por que vieste tomar banho de sol no quarto
Estreito e apertado do meu contrito peito?…
Oh! flor, que se lamenta!… Que chaga amarela
Devorou o teu sorriso de donzela estrela?…
Sim, foi essa enfermidade febril e demente;
Foi esse cavalo indômito, arredio, tagarela;
Foi esse animal bípede, que rasteja seu clamor
Na garganta profunda de dor tão presente…
Sim, foi esse sentimento íngreme por nome Amor!…
5-2-2011
Quem disse que Amor, por amar, aprende a calar
A dor insensata no peito amante e indolor?…
Quem disse que Amor, por calar-se, aprende a falar,
Tal qual bebê a engatinhar na idade dessa flor?…
Oh! flor, que se espreguiça, tão ancha na janela!…
Por que vieste tomar banho de sol no quarto
Estreito e apertado do meu contrito peito?…
Oh! flor, que se lamenta!… Que chaga amarela
Devorou o teu sorriso de donzela estrela?…
Sim, foi essa enfermidade febril e demente;
Foi esse cavalo indômito, arredio, tagarela;
Foi esse animal bípede, que rasteja seu clamor
Na garganta profunda de dor tão presente…
Sim, foi esse sentimento íngreme por nome Amor!…
5-2-2011
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