Você Sorriu



Não sei que prazer
Me deu? Na manhã,
De hoje, tudo rútilo.
Um pássaro canta:

Está alegre ou triste?
Talvez ele cante,
Porque sim existe.

Prazer com que anda?
Por que você está
Tão vexado? O Sol
Não largou o fulgir.

A rua, calva, sem
Pingo de pé ou gente.
E você sorriu?

Autor: Edigles Guedes.


Baba de Caim



Retiro um papel cru da gaveta,
Está sujo, empoeirado pela
Sarjeta do tempo obscuro, além;
Distante, escuto um coro de améns,
Entoados pelas muitas cigarras,
E cada uma espantando os seus males.

O papel em si, é simplesmente
Um papel comum, sem os rabiscos,
Sem escritos ou linhas de pautas,
Mas suspira, como vivo fosse.
Tenho tosse, resquício de tarda
Pneumonia, que afetou meu filho.

As Horas gotejam tão demente
A derradeira baba de Caim!

Autor: Edigles Guedes.


Tobogã



Serpente aflitíssima,
Que faz-me sonhar
Com muitas as águas
De cuia ou de mar.

De súbito, breve
Caroço de criança
Retumba o seu tombo
Em arco de aliança:

Humano ser vivo
Com jorro, miríades
De pingos altivos,

Que brincam de líquido
Espesso ou partidos
Cristais abismados.

Autor: Edigles Guedes.


Conto de Outono



Uma folha crócea que dança,
Ao sabor do vento aguerrido…
O vento muge: — Não se canse!…
Vá devagar que a vida é pouca!…

A folha, furibunda, risca
Um sorriso mordaz no rosto,
Joga para longe um chuvisco,
Que teimava em cair naquela

Tarde fria, de outono lívido.
Quase pondo a língua pra fora,
Disse a folha, de cenho vívido:

— Cuide da sua vida, pois cuido
Da minha, é que lhe digo. Nisso,
Veio o inverno: a folha finou.

Autor: Edigles Guedes.


Laço e Beijo



Se me estimas,
Não te estimo;
Se me sonhas,
Não te sonho.

Somos duas
Partes
todo
Níveo. Tuas
Mãos enlaçam

Embaraço
Sou carente
De teu braço.

Sei que aguente
Miúdo laço
Beijo quente!

Autor: Edigles Guedes.


Esquina e Gula



A noite rubra

Que sonho fino!
Que paz de fruta,
Com tanto mimo!


Cansei de ti,
Dos mimos vários;
Cansei de mim,
Dos vis contrários.

E sei que sou
A dura vírgula
E pranto tal.

Mas, deito; estou
Esquina
a gula
No grão final.

Autor: Edigles Guedes.


Livro, Soprano



O prazer corpóreo desse livro,
soprano!
Apalpar a carne ou couro, quando encapado
Explorar a letra impressa, de saltimbanco
E ninar em dedos lívidos o tamanho

Das palavras, ora níveas, ora sombrias

Acalento, meu regato muda-se em berço
Pra acolher desejo, fato estranho, inconfesso,
Que prolongo, incertas horas ficam de brisas,

O deleite frui, fruição de quem se enamora
Por estreito corre-corre, como formigas
Em fileiras
dó, desgosto forte, mitigas.

E mastigas dote, posse dada, demora
Do contato feito, mãos em dança por folhas.
Entretanto, sofro muito gozo, às escolhas.

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...