Abelha, Estrela, Cão e Eu



Zunzum de abelha-operária,
Na hora franzina, matinal.
A cera, que fazem, por enquanto,
Mercê de cimento e tijolo;

Por isso, a casa sobreleva.
De tanto arisca, edifica
Colmeia de nil hexagonal?

E eu — que estrela donatária! —
Navego os céus por desencanto
E minha a voz lhe acrisolo
No peito infante, abissal.

Sacudo coleira, mas escreva:
Que cão, por doméstico, salpica
A língua em dono abismal.

Autor: Edigles Guedes.


Cemitério



Longe, muito longe daqui,
Houve fato fútil, de rima
Leve, solta; doce estima
Brota, como mal de zumbi.

Noite faz terror de zabumba.
Passo moitas mil; cemitério
Late muitas almas: mistério
Dobre; fora, ventos; a tumba

(Cão que dorme, lago de sonho;
Mocho coça perna pirata;
Gato vivo anda risonho)

Abre, sim, desperta coveiro,
Ouve voz de sonsa barata.
— Mãos estica, pai de chiqueiro!

Autor: Edigles Guedes.


Encontro



Fazia mais de duas horas…
Estou aqui de mão suspensa…
Lamento gruda, boca brinca
Com língua brava, siso trinca

Os dentes férreos. Nisso, urge
A noite dentro; luz apaga,
Acende, poste zanga, xinga
Um pouco, fúria vem e vinga.

Desata nó, o peito chora.
E ela foge, cisma, pensa,
Se bem que dó de mim suporta.

Encontro houve não, mas surge
Herói, enredo, grande saga,
Enquanto fecho minha porta.

Autor: Edigles Guedes.


Voz Desafino



Careço de ti,
Que não me acata
Desejo latente
Por Dama troveira.

Careço de Pi,
Coelho silente,
Em braços de gata.
Amor que me cheira!

Pareço um chim
De fronte esguia
E pé de enguia?

Caroço de mim,
De tão pequenino,
A voz desafino!

Autor: Edigles Guedes.


Falta



Senhora minha,
Perdoe sina
De quem te ama,
Na dura cama,

Na doce lida.
Por toda vida,
Jungidos vamos
De mãos atadas,

Em via justa.
Os beijos damos
Na boca. Custa

Ouvir as fadas,
Que dizem nada
Por falta fina?

Autor: Edigles Guedes.


Mamulengo



O pobre mamulengo
Que herda avoengo
O bem de venturado:
O queixo derribado,

Os olhos destrinçados,
Cabelos desgrenhados,
Os pés desenxabidos,
Ouvidos inibidos,

As pernas iludidas,
As mãos de avenidas.
Anil insensatez!

Lição desenredada,
Tarefa deslindada:
Madeira putrefez!

Autor: Edigles Guedes.


Maio



Está chuvoso
Respingos mansos
De ouro brando

Boião da Lua

Navega céu
Nublado
Maio
Que surge tarde

Na linha arde

Um férreo trem

O bom descanso
No banco, quando

A nau jejua
De mar ao léu

E corro, caio


Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...