Dias que não é Brinquedo



Há dias que não é brinquedo;
Todos, sérios, fogem do enredo
Da hilariante vida;
o medo
De alguma calamidade,

Anunciada nos jornais
Matutinos, antes do meio-
Dia em ponto, sol a pino;
O medo que uma barragem

Qualquer estoure suas águas,
Cheia de lama tola e mágoas,
Cheia de vidas despojadas.

Há dias que não se profere,
Ao menos, Amor — m
urcho em terra
Rasa do coração humano!

Autor: Edigles Guedes.


Você é Forte



Você é forte, e isto é o bastante…
E tranque a lágrima em sua fronte;
E tranque às sete chaves, como se tranca
Um cofre cheio de moedas de ouro; e tranque

Sem fazer barulho algum, sem despertar
Os outros sonâmbulos, vagam que por aí,
Entre esquinas e ruas, vilas e vilarejos,
Nas grandes cidades, mas não sabem o porvir…

Desconhecem da Lua, o seu vagido; desconhecem rugido
De Sol nutrido, a sua alegria insondável de viver,
De sonhar os sonhos mais estúpidos, e inda assim sonhar.

Quando se sonha o
Impossível, tal como o Sol nesta manhã de janeiro,
É possível, sim, ouvir o marulhar do mar a quilômetros de distância,
E sonhar, simplesmente sonhar, com dias melhores, sem nuvens para anuviar…

Autor: Edigles Guedes.


Nove



Donde vim, que chego
Tão amargo? Nego
Medo, vil rejeito.
Eu que sei, sujeito.

Vida, muito dura.
Paz ninguém encontra.
Há assaz fundura.
Guerra, zás e contra.

Homem: fruto, luto.
Tão de fácil ponho.
Balde, fixo, chuto.

Eu que cuido mero
Dom de ver os sonhos.
Nove fora zero.

Autor: Edigles Guedes.


Afta ou Sapinho



Patife, o verdolengo.
Viçoso que me devora
A carne. Concupiscência
De fúria bajuladora.

Capaz de malafulengo
Sorrir da despaciência,
Que há me desmorecido.
O menos favorecido

Com graça, contentamento.
Saúde com rabugento
Tempero de caçarola.

A úlcera na graçola
Da boca, que oferece
A fácies e compadece.

Autor: Edigles Guedes.


Cuscuz



O tronco de cone,
Que nunca por clone
O dito passou.
Cabeça de grou.

Compacto vigor
Que goza favor
Da séria natura.
A simples brandura

Dilata os flocos
De milho. Os blocos
Suspiram fumaça.

Vapor que abraça
O cróceo do leito;
Mas eu me deleito!

Autor: Edigles Guedes.


Tapioca



Livorosa comida,
Que pasmada, convida
Ao deleite lascivo
De papilas. Motivo

De fugaz alarido
Com tenaz ruminar.
O sofá comovido
Com larápio cismar.

Adianto, a boca
Mastigava, dolente,
Tapioca contente.

De repente, boboca,
No semblante cavouca
A tristura de pouca.

Autor: Edigles Guedes



Uva



A bola pequena,
Que face serena
De tanto faceira.
Medita asneira

Por ti, que devora
A ânsia senhora.
No corpo purpúreo,
Lhe jaz o sulfúreo

Chilrar de madame.
Oval que derrame!
Beleza ilude.

A bola de gude,
Que mora no saibo
Do frágil ressaibo.

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...