Tranças



Acode-me tuas tranças formosas
Do chão desengano. Lanças ditosas
Dardejam os olhos — setas felizes
Que voam certeiras —, brutos deslizes!

Sacode-me tua dança fecunda.
Quadril que balança minha cacunda.
Sorris; me escondo, meu regozijo;
Pavor desabrocha, ponho-me rijo.

Perder que desata, fico-me sério.
Serena, debocha, agre saltério.
Olvido a birra, rasgo sorriso.

Permuta-me olhar de cala improviso.
Mergulho nas tuas tranças de siso.
Afogo-me, lábios brandos de riso!

Autor: Edigles Guedes.

Senhora



És a Senhora alquimias que ser?
És a Ilusão do bom modo sobejo?
Doce carícia grita no seu beijo.
Vivo, em curto, vago padecer,

Desde que foste: mar de xingamentos!
Venhas que forte e bela em vestidos,
Chitas de mui carmim, por mim curtidos!
Ardes-me dentro, lar de sentimentos…

Corpo danoso, deixa-me olhos pasmos!
Curvas palpáveis, põe-me em orgasmos!
Múltiplos beijos, leva-me às alturas!

Sorvo louváveis ares de perfumes,
Vindos de tua pele: faca e gumes!
Como você, subtil Dama, me atura?

Autor: Edigles Guedes.


Escada



Detém-te, agora, na tesa escada;
Antes que teu pé tropece e caías.
Caíres, serei a tua meiga almofada,
Para que não te machuque as saias.

Se te machucas, capaz de perder
Cabeça, sou, sem piscar os meus olhos.
Que pé louvável! capaz de ofender
Princesa fácil, travando aos molhos

Um nó em garganta franzina e nutrida!
Eu é que perco as palavras mimadas,
Só por pensar em tuas magras feridas!

O que seria de mim, se tu choras?
Fico a colher essas rosas sagradas…
Queixas escoam dos lábios teus, ora!

Autor: Edigles Guedes.



Deboche



Peço as mercês à tua beldade;
Rogo, Sestro meu, por tua lealdade.
Onde… já que vou parir os encantos?
Onde… já que vou partir os quebrantos?

Fraco sou e sal, por tua bondade;
Sonho, brado meu, por tua piedade.
Quê? Se toma soez lamento por canto…
Quê? Se toma vil tormento, espanto…

Terço por mulher em tua lhaneza;
Galgo monte frio, por tua torpeza.
Faz cisão por mal pisar no fantoche!

Urge as maçãs em tua fineza;
Clamo, preço meu, por tua largueza.
Faz questão de mal poupar o deboche!

Autor: Edigles Guedes.


Gastei-me


Gastei-me, a sério, ao ver-te sobranceira;
Deitada debaixo de prófugo jambeiro.
Bom-dia que vai com as pressas ao barbeiro;
Não espia de lado pra flor, sobremaneira.

Gastei-me, chistoso, ao ver-te, de maneira
Que esses impávidos olhos, os solteiros,
Deitaram atenções demais, tão mexeriqueiros!
Pejei; sabia não que nublado Céu, faceira,

Capaz era o seu despejar de Anjos alados!
Havia em mim Sonho perdido por brunido
Amor, tanto raro, quão casto, ora sofrido!

Qual Anjo que agita duas asas, lado a lado,
E voa ao serviço frenético de Deus…
Ligeiro, gastei-me nos olhos, ó olhos teus!…

Autor: Edigles Guedes.


Flores Singelas



As singelas flores, ao pé da cova,
Dormem já insones, pois jazem mortas;
São de meu amor por ti a pura prova,
Eu que vivo não, mas a Hora torta…

Esta, de asas guias tem, ainda chova
Canivete, nada carece, absorta,
A viver no mundo da Lua… Ah! Alcova
Do meu triste ser, ardil sem a porta!…

Que não sei se minto e o pranto cai…
Que não sei se sinto e o pingo sai…
Salta vale e campo, meu torso grito!…

O porém que dói, sufocado ai!
Que palpita duro, enforcado, atrai
A espada fria da alma ou rito.

Autor: Edigles Guedes.


Se Deus



Se Deus quiser…
Um beijo deito
Na face lívida
De Dama vívida.

Se Deus disser…
Um peito feito
De linda pérola.
A mil, carola

Enruga alma…
Amante quedo
Por ti. O fedo

Do sol espalma
As luzes. Cedo;
Dilúvio tredo.

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...