Gastei-me


Gastei-me, a sério, ao ver-te sobranceira;
Deitada debaixo de prófugo jambeiro.
Bom-dia que vai com as pressas ao barbeiro;
Não espia de lado pra flor, sobremaneira.

Gastei-me, chistoso, ao ver-te, de maneira
Que esses impávidos olhos, os solteiros,
Deitaram atenções demais, tão mexeriqueiros!
Pejei; sabia não que nublado Céu, faceira,

Capaz era o seu despejar de Anjos alados!
Havia em mim Sonho perdido por brunido
Amor, tanto raro, quão casto, ora sofrido!

Qual Anjo que agita duas asas, lado a lado,
E voa ao serviço frenético de Deus…
Ligeiro, gastei-me nos olhos, ó olhos teus!…

Autor: Edigles Guedes.


Flores Singelas



As singelas flores, ao pé da cova,
Dormem já insones, pois jazem mortas;
São de meu amor por ti a pura prova,
Eu que vivo não, mas a Hora torta…

Esta, de asas guias tem, ainda chova
Canivete, nada carece, absorta,
A viver no mundo da Lua… Ah! Alcova
Do meu triste ser, ardil sem a porta!…

Que não sei se minto e o pranto cai…
Que não sei se sinto e o pingo sai…
Salta vale e campo, meu torso grito!…

O porém que dói, sufocado ai!
Que palpita duro, enforcado, atrai
A espada fria da alma ou rito.

Autor: Edigles Guedes.


Se Deus



Se Deus quiser…
Um beijo deito
Na face lívida
De Dama vívida.

Se Deus disser…
Um peito feito
De linda pérola.
A mil, carola

Enruga alma…
Amante quedo
Por ti. O fedo

Do sol espalma
As luzes. Cedo;
Dilúvio tredo.

Autor: Edigles Guedes.


Sinas Poéticas



Um poldro pendurou seu pio lamento
Na dura entrelinha, que eclode
Em trela… Eu sei tão que bela ode
Se escreve em martírio de tormento!


O Pégaso que voa sem asas, crinas,
A pele sem pós; é raso de mim
Ou eu mero inteiro, de carmim?

Pois, onde que terminam minhas sinas

Poéticas pacóvias, cosmológicas?

Trebelhos de menino mui traquinas,
Em mim, dentro?… Cavalo sou e lógicas?…

Divago, imensuráveis rios estreitos

Cavalgo por louváveis nuas esquinas
Caminho por inseto, laço e leito…

26-3-2014.

Querida Margarida



Querida Margarida, o mundo e seu sistema
São hipócritas, troam que por natureza.
Não me adiantas vir com contrários dilemas,
Com rios de teoremas e vis sutilezas

De rã grasnar… O mundo jamais que perdoa!
Mundo que é implacável; por condenação,
Melhor não há! De todos, bem calmo, atordoa!
Faz pilhérias à toa, gota confusão!

E, quando a Morte — assanha a que enfadonha ação
De Dama Negra em Lago rústico da vida —
Chegar, apita o trem de lúgubre partida.

Querida Margarida, preste-me atenção:
O ser existe — menos porque demais faltam
As coragens, as guelras, que doidos desatam!...

22-11-2018.



Cego



Me tira sossego
O rijo lamento
De alma sentida.
Bendita que lida

Inteiro o tipo,
De tudo um pouco!
Baú: serventia
Da coisa banida.

Me fica o cego
De olho atento.
O cão, de guarida.

E vou, participo
Do mundo, um louco
Em cru cercania.

Autor: Edigles Guedes.


Voz



Simpático som
De tua a voz
Me deixa cabreiro.
Ninguém me escuta

No ermo sertão.
Aqui, o negror
Consome a alma.
Mimético tom

De rude atroz;
Capaz de, coveiro,
Me dar a cicuta

Por duro sermão.
Aqui, o ardor
Esgota a calma.

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...