Sinas Poéticas



Um poldro pendurou seu pio lamento
Na dura entrelinha, que eclode
Em trela… Eu sei tão que bela ode
Se escreve em martírio de tormento!


O Pégaso que voa sem asas, crinas,
A pele sem pós; é raso de mim
Ou eu mero inteiro, de carmim?

Pois, onde que terminam minhas sinas

Poéticas pacóvias, cosmológicas?

Trebelhos de menino mui traquinas,
Em mim, dentro?… Cavalo sou e lógicas?…

Divago, imensuráveis rios estreitos

Cavalgo por louváveis nuas esquinas
Caminho por inseto, laço e leito…

26-3-2014.

Querida Margarida



Querida Margarida, o mundo e seu sistema
São hipócritas, troam que por natureza.
Não me adiantas vir com contrários dilemas,
Com rios de teoremas e vis sutilezas

De rã grasnar… O mundo jamais que perdoa!
Mundo que é implacável; por condenação,
Melhor não há! De todos, bem calmo, atordoa!
Faz pilhérias à toa, gota confusão!

E, quando a Morte — assanha a que enfadonha ação
De Dama Negra em Lago rústico da vida —
Chegar, apita o trem de lúgubre partida.

Querida Margarida, preste-me atenção:
O ser existe — menos porque demais faltam
As coragens, as guelras, que doidos desatam!...

22-11-2018.



Cego



Me tira sossego
O rijo lamento
De alma sentida.
Bendita que lida

Inteiro o tipo,
De tudo um pouco!
Baú: serventia
Da coisa banida.

Me fica o cego
De olho atento.
O cão, de guarida.

E vou, participo
Do mundo, um louco
Em cru cercania.

Autor: Edigles Guedes.


Voz



Simpático som
De tua a voz
Me deixa cabreiro.
Ninguém me escuta

No ermo sertão.
Aqui, o negror
Consome a alma.
Mimético tom

De rude atroz;
Capaz de, coveiro,
Me dar a cicuta

Por duro sermão.
Aqui, o ardor
Esgota a calma.

Autor: Edigles Guedes.


Mandala

Uma mandala de cores azul, vermelho e roxo.


Caravela babou, fétida, a sua cólera.
Suei frio; calei meu desejo de mar morto.
Sofri demais com insano e cáustico dilema.
Esparramou-se o meu dentifrício tão fosco.

Deixei transparecer um gosto ou contragosto.
Esbanjei as palavras sem cédulas rimas,
Que calaram em minha bocarra. — Que Tolo!
— Falaram, maldizendo todos esta sina.

Por que amo tanto a quem não se tolera amar?…
Se ela me sorri, eu me derreto à sorrelfa.
Se ela faz um simplório gesto de mandala,

Sou capaz de pular das nuvens que me grita.
Ela não me sorriu, jamais que me deu trela.
Por isso, sofro dessas jornadas sem vindas!…


Outro soneto

Barril e navio. Naufrágio. Tempestade. Ondas grandes e furiosas.



Palavra tonteante e cruel disseste-me.
Sopraste no ouvido meu leonino,
Que magoou vocábulos sentidos.
Eu fiquei sem chão: só barco sem leme.

Paredes que apalpei de sóbria cal.
Contorço-me no fio demais fininho,
Que me sustenta, cá, no ar desatino.
Minha língua pressente a pá de sal.

Quedei-me no sofá pasmo da sala.
Um longínquo tormento e colossal
Inundou-me a alma já dilacerada.

Ó bendita palavra! que me fere,
Que me rasga, que fisga grão punhal
Na boca ávida, rude carne: cárcere!…

9-10-2016.


A Fortuna do Morango

Uma bacia em forma de flor, cheia de morangos. Um copo de suco de morango. Um vaso de flores. Uma compota com doces de morango.



Jaz o morango sobre a mesa torta.
Não sabe que seguir rota. Destino
Não se traça com vela em sua nau tosca;
Não se traça sem mero em mapa prisco.

Fortuna rota não é pirata em crimes
Pelos setenta mares, fora e dentro.
A dormir, mas, morango menos crise,
Não sabe que destino o seu está aceso.

De repente, escuta-se alarido
No ar. Uma faca ingente e seu sorriso
A sorrir puro dano. Hora má e sina!

Logo, a faca soletra grave dito:
— Desinfeliz morango, réu sem tino,
Morre o porquê sem saber da lida!

3-1-2016.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...