Em pia sem Tampo


No mar trívio, o sol vejo a despertar,
Pintando de azul o horizonte em tela.
A Noite foi deveras chuvas tempestuosas;
As águas bravejavam tardias e impetuosas…

A vela com o vento vivia a flertar…
A Fúria cega, dor de gema amarela,
Queria porque queria tragar os mares,
Setenta de bocejos… Leme, ao léu, aos ares,

Voou… O infausto Navio foi-se a decertar
Com a Sorte e Azar — Cavalo alvo sem sela
A correr embestado por asfalto ou campo

De hipocampos… Eu, sim, deixei-me alertar
Por vãs rimas e estrelas sem rútilas trelas:
A vida — eis o naufrágio em pia sem tampo!…

7-2-2015.

Mundo Ogro


Majestosa, subias as boas escadas
De Jacó… Jubilosa, as escaldadas
Anáguas, lindas, desciam, fás ao vento…
Fazia frio de feio… Tremulento,

Teci mãos em nutriz e bom quadril,
Envolto em seda púrpura com anil…
Os pasmos degraus, sós, qual boquiabertos,
Lançam olhares cínicos, incertos…

Não reparo no sevo falatório
Das portas… Dou atenção ao vil desvario
Das impiedosas Horas: são fugazes!…

Eu mapeei, mocorongo, o teu corpo,
Qual cartógrafo age em globo ogro…
Ah, Horas! são indomáveis ares ases…

7-2-2015.

Sorte Retina


Se amei?… Quem desagrada a Rosa biltre e ciosa?…
Eis que tão certamente acolhi seus espinhos,
E abrolhos, e bugalhos, e alhos, e ninhos…
Não sei amar metade e por mente ociosa.

Mas a leda Fortuna assoprou penosa
Desdita em minha lida. Que ais!… Desadoro
Lágrimas minhas secas… Que ais!… Afervoro
Soez razão sem razão — pedra tênue e danosa.

Embotada por pia frustrada e antifaz…
Rosa jeremiou, Rosa!… de navegar foi-se;
Partiu — qual galo a golpe de contorce foice…

O Amor se faz com Amor que cedo se desfaz;
Pois, de Amor em Amor, a roda e triste Sina
Transforma a pulcra Rosa em sua Sorte retina.


1-2-2015.

Teu Elã, que me Deixa à Margem de mim


Desadoro qualquer surda rotina
Que me siga a nau, salvo siso duro,
Papo de antraz, quina por furtiva…
Machuca-me abraço cru de urso?…

Quiçá, caro Cupido, já calou,
Em meu coração, sem pingo de préstimo,
Essa dor — que tão dor! — veio e manchou
O tapete em lágrima com imo.

Quiçá estimado Ser mui cabuloso…
Sirva-me apenas, cá, mil de miragem
Ou de espinho cravado em vão poro!…

Por isso, desadoro, fugaz, esse
Teu elã, que me deixa, pasmo, à margem
De mim; desde a ti que apetece.

30-7-2014.

Água sem pia


Tua louçania de torpe corpo atraiu-me:
Caravela atraída pelo cais!…
A tua pele viçosa consumiu-me…
Ruda, como consome os lentos ais!…

Garridice e trela estonteiam-me
— Soca estômago e pé de boxeador!…
Crua, no olhar, fidalguia deslumbrou-me.
No comenos, estou galã ator!…

Porém, tu — que tão bruto Amor!… — não passas
De uma foto, guardada por debaixo,
Sete capas. E, cá, dentro me assas

De prazer, de desejo, de volúpia,
Que nem reles titã já cabisbaixo!…
Andorinha ao verão, água sem pia!…

21-5-2014.

Trezentas Rosas Nigerianas


Que somos coletivo de arcano?…
Afligem, por que tais calamidades?...
Censuras (podres são!) não faz um ano?...
Decerto, mergulhou a Noite cidades

Inteiras calafrio no sequestrado
E ouvidos crus. Trezentas, raras flores
Roubadas por “Boko Haram” vil. Fado,
Que sem das piedades mães em dores,

Compele as inocentes nigerianas
Ao forno de vaidades desumanas,
Ao forno de degolas em demasia,

Ao forno, cruéis estupros, sensaboria.
Calosa pudicícia e perdida…
A escola de “Chibuk” está tão sentida!…

21-5-2014.

Nó que me Desata



A régua  tonteia-me
Com a reta, agora,
Tracejada… Ceia-me:
Urubu por fora…

Fado que me enfada;
Destino sem prumo;
Nó que me desata;
Caminho sem rumo…

Foi-me embora o riso;
Foi-me embora o siso;
Foi-me embora o triste

Amor… dedo em riste.
Foi-me embora o liso
Ser incircunciso!…

21-5-2014.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...