Trezentas Rosas Nigerianas


Que somos coletivo de arcano?…
Afligem, por que tais calamidades?...
Censuras (podres são!) não faz um ano?...
Decerto, mergulhou a Noite cidades

Inteiras calafrio no sequestrado
E ouvidos crus. Trezentas, raras flores
Roubadas por “Boko Haram” vil. Fado,
Que sem das piedades mães em dores,

Compele as inocentes nigerianas
Ao forno de vaidades desumanas,
Ao forno de degolas em demasia,

Ao forno, cruéis estupros, sensaboria.
Calosa pudicícia e perdida…
A escola de “Chibuk” está tão sentida!…

21-5-2014.

Nó que me Desata



A régua  tonteia-me
Com a reta, agora,
Tracejada… Ceia-me:
Urubu por fora…

Fado que me enfada;
Destino sem prumo;
Nó que me desata;
Caminho sem rumo…

Foi-me embora o riso;
Foi-me embora o siso;
Foi-me embora o triste

Amor… dedo em riste.
Foi-me embora o liso
Ser incircunciso!…

21-5-2014.


O Mastigar de Amendoim Japonês




Enclausurado em casca oca de ovo
Acorda-me, marrom, com cheiro fosco.
Guloseima, em decúbito: saudade
É mastigar por dentes e seus males.

Setenta era o peso denso e líquido,
Mui crocante e salgado tanto. Nisso,
Por um piedoso dente, amendoim fica
A degustar sua sóbria morte e sina.

Sim, mecanicamente, me deleito
Com essa urgência, fome de felina;
Com essa aparência bem-vinda: o leito!

Tudo nasce, decerto, logo morre;
É a lei tolerável da existência
Humana: somos todos uma tosse!

Autor: Edigles Guedes.

A Arte de Lavar Panelas




Segure a panela com duas mãos rijas.
Esprema o alumínio contra a pia fixa,
Até que saia suor em caldo, aos mergulhos.
Bem, lave o fundo e todos os mínimos furos.

Pegue outra panela já seca e suja.
Aos borbotões, que abra a torneira; que fuja
A mão com espuma e bom sabão, calado e cálido!

Desta forma, aos poucos, cala-se cru e ázimo,

Tempo perdido entre uma bolha e outra

Aos pingos, que escorra a imundície insana!
Navego-me por entre ondas Quantas ondas

De detergentes!… Minha face surta e muda
Diante da limpeza demais almejada:
Vaga e voa veloce, a pequena bolha!…

Autor: Edigles Guedes.



Prometeu Acorrentado 2




Foi-se o preso lamento na garganta,
Aguilhoado está meu útero ser…
Aguilhoado está meu fígado a tanta
Pedra; cá, sofrimento e por haver…

Foi-se o aplauso, que fora recebido
Por salaz igual, tão caro a mim…
Restou-me esse bom fígado, lambido
Por perversa de língua águia carmim…

Nesses, trons escarpados, rebos expio
O meu crime: de trair minha progênie,
Por amar quantas gentes, de arrepio…

Eis, pois, já que me sofre o Destino
— Fogo, dor que exânime da sânie!…
Louco sou por sonhar sem juízo ou tino?…

Autor: Edigles Guedes


Memória de Lince



Eis a fotografia do teu rosto,
Pendurada no meu quarto e peito,
Onde bate (e como bate!…) tosco
Coração tão carente e mais doído!…

Eis a fotografia de tão tácita
Cútis tua — esse cálice que queima
Minha pele desnuda, e rude, e pálida,
Com teu hálito, má contrapartida…

Eis a fotografia de tão cálidas
Maçãs dos lábios teus — oásis suaves
Em deserto de areias inauditas…

Eis a fotografia assaz símplice
E tua, na tatuada grave lacre
Da minha acre memória, vago lince!…

Autor: Edigles Guedes.

Febre Anil



Escondeu-se o pranto na boca insensata,
Quando a lágrima ilustre pingou fóssil pingo,
Deveras, molhou minha face — acrobata
Da dor humana, a qual desfruta de perigo.

Escondeu-se o manto no corpo sem braços
— Que mil vezes me abracem!… em desvairados
Abraços, como fossem de levianos laços
De Lua, mel, fel, sorrindo os sorrisos raros.

Escondeu-se o meu tato em tua boca ingrata,
Que mamava da gata o leite, em vis deleites
De luxúria — o luxo de quem nunca acata

O Amor e seus desejos castos ou ardentes.
Escondeu-se em minhas fibras ora exânimes,
Febre por tua anil carne, lábios e dentes!…

Autor: Edigles Guedes.


Aquário de Vida

À mercê dos favônios, Bisviver jigajoga, Bajogar a conversa, Retisnar os neurônios… Lida que se renova. Quem me dera essa trela… Fá...